Os traficantes de drogas no Amazonas têm usado inúmeras estratégias para tentar driblar as fiscalizações e transportar entorpecentes pelo Brasil. Desta vez, eles estão inovando ao ponto de transformar a cocaína, o “ouro branco” do tráfico, por conta do seu valor comercial, em um material de coloração preta.
“O Amazonas não tinha esse histórico de apreensão. Quando descobrimos o material pela primeira vez chegamos a pensar que o traficante tinha sido enganado, pois quando abrimos o pacote suspeito e nos deparamos com um pó negro, achamos semelhante ao pó de guaraná, sendo mais escuro”. As palavras em tom de surpresa são do titular do Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc), no Amazonas, Paulo Mavigner, durante a apresentação do primeiro laudo pericial em Manaus da nova ‘cocaína negra’, no dia 30 de novembro de 2020. A novidade é tanto que surpreendeu a todos e passou despercebida pela polícia do Amazonas e chegou pelos correios no Rio Grande do Sul.
Ainda neste mês, agentes da Polícia Civil de Novo Hamburgo/RS apreenderam na manhã da quarta-feira (3) 26 quilos de uma droga denominada de ‘cocaína negra’. A apreensão, feita em conjunto com a Receita Federal, foi a primeira realizada no Rio Grande do Sul. A descoberta do tráfico foi feita no momento em que um colombiano recebia a mercadoria, vinda de Manaus/AM e que estava acondicionada em embalagens de Açaí.
Apesar dos casos citados serem recentes, a cocaína já vem sendo encontrada pelos departamentos de investigação de narcóticos de vários países na América Latina há algum tempo. “No Brasil, o primeiro caso encontrado foi há cerca de seis anos no estado do Mato Grosso do Sul. Em Manaus, como era uma novidade para nós, chamamos a Polícia Federal que identificou que o material era cocaína”, relembra o delegado Paulo Mavigner para o EM TEMPO.
Quando a cocaína foi descoberta no começo deste ano, apesar da tentativa de camuflar a droga, o cachorro treinado pela polícia federal identificou que o material apreendido pelo Denarc se tratava de um entorpecente. “O material apreendido tinha um odor fraco e a cor bem diferente. Ainda assim, jogamos o 'narcoteste' que é um produto usado para identificar se a substância é um entorpecente. O teste deu negativo. Imediatamente chamamos a polícia federal que por meio do Odin, o cão treinado, identificou que aquilo era sim cocaína”, afirmou Mavigner
Cocaína contém metal na mistura
O delegado acredita que o material ainda passa por uma transformação quando chega ao seu destino final. “No material apreendido foi identificado que há uma presença grande de metais pesados e alguns elementos especiais como o sal. Esse material é impróprio para consumo, mas é enviado assim para tentar enganar a fiscalização. Ao chegar no seu destino ela deve ganhar a cor branca novamente por meio de um processo químico”, revela Mavigner.
Para o professor de ciências criminais e advogado, Antônio Mansour, a diferenciação do produto na hora da apreensão não implica na parte processual penal que irá punir aquele que estiver envolvido neste tipo de tráfico de drogas. “A lei 11.343/2006, que define os crimes relacionados à prática do tráfico ilícito de drogas, em seu artigo 33, prevê que dentre as diversas condutas que caracterizam o crime de tráfico está o ato de entregar a consumo ou fornecer drogas, mesmo que seja de graça. Isso significa que mesmo que esta droga não seja própria para o consumo naquele momento, o objetivo final é para que seja. Portanto aquele que estiver envolvido no tráfico deste tipo de entorpecente também responderá na justiça por tráfico de drogas”.
Conforme o especialista, este tipo de atitude é para tentar fugir da punição e continuar praticando o ato ilícito. "Acredito que atos como este são para fugir da punição se forem pegos, mas é claro que mais do que isso, é também para continuar o tráfico sem serem interrompidos. Com isso eles tentam enganar a fiscalização. São suspeitos tentando continuar aquilo que é considerado ato ilícito".
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