Em publicação na manhã desta terça-feira (5/1), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a defender o uso do medicamento nitazoxanida, vermífugo comercialmente conhecido como Annita, no tratamento da Covid-19. Ele citou dados de um estudo encomendado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) que indicou que o medicamento reduz a carga viral da Covid-19.
O estudo, publicado no fim de dezembro no European Respiratory Journal, revista científica internacional, mostrou que o antiviral é capaz de reduzir a carga viral em pacientes com até três dias de confirmação da doença no organismo. Para isso, deve ser administrado na dosagem de 500 mg, de 8 em 8 horas, durante 5 dias.
No entanto, o vermífugo não reduz os sintomas da Covid-19. Os testes apontaram que, após 5 dias de terapia, não houve diferença significante na resolução dos sintomas da doença entre o grupo que recebeu a medicação e os voluntários que tomaram as doses de placebo.
Também não há comprovação científica de que a quantidade de vírus no organismo faça diferença na transmissão ou no desenrolar da doença. Há estudos que mostram essa associação apenas em casos graves.
De acordo com o infectologista Alberto Chebabo, do Laboratório Exame, os pesquisadores procuravam uma redução de febre e tosse, sintomas leves, nos primeiros cinco dias e redução da carga viral. Não houve diferença nos sintomas nesse intervalo, mas sim em sete dias.
“É um estudo interessante, mostra que o remédio tem atividade antiviral, mas em termos de tratamento, não muda nada. Precisamos de uma droga que mude desfecho grave, de paciente que precisa de oxigênio, de ser entubado. Uma droga que reduz febre não muda muito a história natural da doença”, explica o especialista.
Segundo ele, a diminuição da carga viral propagandeada pelo governo pode ser interessante se houver comprovação de que há diminuição na transmissão. “O estudo infere, mas não existe comprovação”, afirma. “Até o momento, a droga tem resultados muito pouco importantes”, diz.
O estudo é assinado por 29 pesquisadores, coordenados pela professora Patrícia Rocco, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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