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“Sarí acabou com tudo que eu sonhava”, diz mãe de menino Miguel

Em entrevista, Mirtes Renata desabafou sobre a patroa. Garoto morreu após cair de nono andar de prédio residencial em Recife

08/06/2020 às 10h31 Atualizada em 08/06/2020 às 10h36
Por: Jéssyca Seixas Fonte: Metrópoles
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Divulgação
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Mirtes Renata Santana de Souza passou a vida inteira adiando seus sonhos. Queria ser bacharel em geografia. Não conseguiu. Queria ser técnica em segurança do trabalho e morar em São Paulo. Também não conseguiu. Seus planos foram sendo destruídos pela realidade da pobreza e do racismo.

Na última terça-feira (02/06), esse futuro, tantas vezes postergado, passou a ser mais uma vez uma incógnita com a morte do seu filho Miguel Otávio, de 5 anos. O garoto caiu do nono andar de um prédio de luxo na região central do Recife. Ele foi deixado sozinho no elevador de serviço pela patroa de Mirtes, Sarí Corte Real, casada com o prefeito Sérgio Hacker.

A mãe de Miguel Otávio perdeu a capacidade de sonhar: “Ela acabou com tudo”, desabafou em entrevista ao Metrópoles.

A morte de Miguel marca uma existência de sofrimento e luta. Desde pequena, Mirtes, filha da doméstica Marta Souza e do marchante Erivaldo Francisco, tentou driblar o destino de quem nasce negro no Brasil.

Nascida no Hospital Agamenon Magalhães, na Zona Norte do Recife, em 25 de fevereiro de 1987, ela viveu até os 3 anos com os pais no Alto José do Pinho (RE) e mudou-se, acompanhando a família, para Bonança, distrito da cidade metropolitana de Moreno, às margens da BR-232.

Estudou em escolas públicas a infância e adolescência inteiras. Primeiro na Escola Municipal Gerson Carneiro da Silva, em Bonança, onde concluiu o ensino fundamental — cuja nota na avaliação do Ideb em 2017 foi 3,8 (a meta era 4,4).

Depois em Moreno, na Escola Estadual Sofrônio Portela — 15 em cada 100 alunos estão fora da faixa correta idade-série. “Fiz um curso de panificação e pastelaria oferecido pela CDL e, como era uma das melhores alunas, ganhei uma bolsa para fazer o cursinho pré-vestibular”, conta ela.

Foi aí que o primeiro sonho de Mirtes apareceu com chances de virar realidade: “Eu sempre gostei dessa coisa do clima. Era apaixonada por geografia”.

Ela se juntou aos alunos do Vest Plus, oferecido pelo tradicional Colégio Americano Batista. A batalha para ir à universidade se revelou dura.

“Eu pegava um ônibus oferecido pela Prefeitura de Vitória de Santo Antão. Pegava o ônibus às 5h20. Só chegava em casa à tarde”, relembra. Quando saiu o resultado dos exames, a decepção: “Eu não passei por alguns décimos”.

Era 2009. Mirtes não desistiu. No ano seguinte, já sem a bolsa, ela tentou de novo.”Como eu não podia pagar o cursinho, estudava em casa, com o material do Vest Plus.” Mas a realidade mais uma vez escancarou os dentes e a jovem não passou no vestibular. “Não tive uma educação realmente de qualidade. Estudei muito, mas não consegui, infelizmente.”

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