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Jules Bianchi, um enorme talento perdido precocemente num acidente no Japão

Há três anos, promessa francesa não resistiu aos sérios ferimentos na cabeça sofridos num estúpido acidente ocorrido nove meses antes durante o chuvoso Grande Prêmio do Japão, em Suzuka

17/07/2018 às 11h41 Atualizada em 17/07/2018 às 12h10
Por: Erinaldo Fonte: Globo Esporte
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Getty Image
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Depois de muito atraso, a largada foi dada atrás do safety car, e a bandeira verde, acionada apenas na décima volta. Bianchi progrediu aos poucos na classificação até chegar ao 12º lugar na 25ª passagem. Depois de trocar os pneus de chuva, o francês caiu para 20º e não conseguiu se recuperar muito, upara 17º. eriência na F1 com a modesta equipe Marussia e, dizem, era um possível candidato a campeão mundial com o decorrer da sua carreira.

A família de Jules era ligada ao automobilismo. Seu avô Mauro competiu em provas de GT na década de 1960, enquanto o tio-avô Lucien disputou 19 provas de F1 de 1959 a 1968, e ganhou naquele ano as 24 Horas de Le Mans, mas perdeu a vida no ano seguinte na mesma pista. Sobrinho de Lucien, Philippe homenageou o tio ao colocar o nome do filho de Jules Lucien André Bianchi.

Jules começou a carreira no kart aos três anos e na base ganhou os títulos da Formula Renault 2.0 (2007) e Fórmula 3 Europeia (2009), foi terceiro colocado na GP2 (2010) e vice da Fórmula Renault 3.5 (2012). Bianchi foi contratado pela Academia da Ferrari, participou pela equipe do teste de novatos, e, naquele mesmo ano, virou reserva da Force India.

Pude conversar com Bianchi numa gravação para o Linha de Chegada do SporTV, durante o fim de semana da penúltima edição do Desafio Internacional das Estrelas de Kart promovido por Felipe Massa, em janeiro de 2013. Na ocasião, Jules venceu a segunda bateria e também no geral. Muito educado e solícito, lamentava apenas não poder estrear na F1 já naquele ano, já que todas as vagas de titular estavam fechadas.

Mas logo depois apareceu a chance, na modesta Marussia, em função do infortúnio do brasileiro Luiz Razia. O baiano estava confirmado como titular mas perdeu a vaga porque seus patrocinadores não honraram os compromissos financeiros com a equipe.

Em sua primeira temporada, Bianchi cumpriu o que dele se esperava num time pequeno: superou com regularidade o companheiro, o inglês Max Chilton, e só abandonou três das 19 corridas do ano. Se não deu para pontuar, pelo menos a impressão foi positiva.

Depois da primeira temporada pela Marussia, Bianchi foi confirmado para 2014. A equipe passou a ter motores Ferrari, e o francês esperava conseguir mais experiência, além de, quem sabe, com o novo regulamento dos motores híbridos, tentar algum bom resultado diante de uma possível redivisão das forças entre as equipes. Isso não aconteceu, e a Marussia continuou andando lá atrás, mas veio o GP de Mônaco, e, numa pista na qual o equipamento faz menos diferença, Bianchi conseguiu o praticamente impossível: pontuar com a Marussia.

Depois de ficar apenas em 21º e penúltimo no grid por uma punição de cinco posições por troca de câmbio, Jules aproveitou uma série de confusões à sua frente para evoluir na classificação. Mas Bianchi foi novamente punido, com um drive through, por irregularidades no grid. Além disso, por um erro da Marussia, ele cumpriu a punição em regime de safety car.

Apesar de tudo, com mais incidentes na prova, o francês chegou à zona de pontuação na 60ª de 78 voltas e cruzou a linha de chegada em oitavo. Mesmo com uma nova uma punição pela irregularidade no drive through, Bianchi terminou classificado em nono, um resultado espetacular e muito festejado em todo o paddock.

Depois do milagre de Mônaco, a Marussia voltou ao seu estado normal, com Bianchi se classificando nos grids e terminando as corridas sempre do meio para trás. O melhor resultado em treino foi um 12º no grid em Silverstone, numa classificação disputada sob chuva - na mesma corrida, o francês foi o 14º colocado.

Ainda sem saber o que a temporada 2015 lhe reservava, Bianchi foi para a corrida do Japão para mais uma corrida sem grandes esperanças. Conseguiu o 18º lugar entre 22 pilotos, e a chuva que despencou em Suzuka no dia da corrida o fazia renovar suas expectativas para, quem sabe, repetir o milagre de Monte Carlo.Depois de muito atraso, a largada foi dada atrás do safety car, e a bandeira verde, acionada apenas na décima volta. Bianchi progrediu aos poucos na classificação até chegar ao 12º lugar na 25ª passagem. Depois de trocar os pneus de chuva, o francês caiu para 20º e não conseguiu se recuperar muito, subindo apenas para 17º.

Aí veio a tragédia.

Na 41ª de 53 voltas previstas, Adrian Sutil perdeu o controle de sua Sauber na curva 8 e bateu com força na proteção de pneus. A direção de prova não acionou o safety car e decidiu que apenas as bandeiras amarelas deveriam ser agitadas no local, orientando os pilotos a reduzir a velocidade. Lá, havia um trator se preparando para tirar o carro de Sutil da área de escape.

Duas voltas depois, Jules Bianchi rodou na mesma curva e atingiu o trator a 150 km/h. Infelizmente, a Marussia de Bianchi entrou por baixo do trator, com a cabeça de Bianchi batendo diretamente na traseira do veículo. A transmissão de TV não captou - ou não quis mostrar - a batida o francês e, duas voltas depois, a corrida foi encerrada com vitória de Lewis Hamilton.

Logo depois do acidente, as notícias foram desanimadoras. Segundo o primeiro boletim médico, Bianchi sofreu uma lesão axonal difusa no cérebro, num quadro considerado praticamente irreversível ou que, na melhor das hipóteses, deixaria o francês com graves sequelas. Jules permaneceu internado no Centro Médico de Mie em coma, com o quadro estável.

Nos dias seguintes, um vídeo amador de um espectador mostrou a fortíssima colisão. Ao mesmo tempo, começou uma polêmica nos bastidores. Para Felipe Massa, a corrida deveria ter sido suspensa pela falta de visibilidade, que havia piorado muito nas voltas anteriores ao acidente pelo fato de estar quase anoitecendo no Japão.

Já o diretor de provas Charlie Whiting defendeu a decisão, e um relatório posterior da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) informou que Bianchi não reduziu substancialmente a velocidade no momento da bandeira amarela por causa do acidente de Adrian Sutil.

Enquanto Bianchi permanecia desacordado no Japão, as equipes e pilotos da Fórmula 1 prestavam tributos ao jovem francês. No fim de semanaseguinte à corrida em Suzuka, foi disputado o primeiro GP da Rússia, em Sochi, e as homenagens foram muitas.

A Marussia preparou o carro de Bianchi como se ele fosse disputar a prova, e foram criadas diversas hashtags nas redes sociais como forma de apoio à família de Jules.

Bianchi permaneceu internado no Japão por dois meses, mas sem melhoras significativas. Ainda em coma, mas com um quadro geral mais estabilizado, Jules foi transferido para a cidade francesa de Nice, onde deu entrada em outro hospital.

Em seu país, o francês seguiu desacordado, sem melhora no seu quadro de saúde. No dia 13 de julho de 2015, nove meses depois do acidente, Philippe Bianchi, pai de Jules, fez um desabafo emocionado e disse que era pior enfrentar esse quadro do filho do que se ele tivesse morrido.

Quatro dias depois, no dia 17 de julho de 2015, a família de Bianchi fez o anúncio da morte de Jules:

"Jules lutou até o fim, como sempre, mas a sua batalha terminou. Queremos agradecer à equipe médica do Hospital Universitário de Nice, que o tratou com amor e dedicação. Também queremos agradecer à equipe do Centro Médico Geral de Mie, no Japão, que cuidou imediatamente de Jules após o acidente, bem como todos os outros médicos envolvidos na luta travada ao longo dos últimos meses".

Era a primeira fatalidade na Fórmula 1 desde a morte de Ayrton Senna no GP de San Marino de 1994.

O enterro de Bianchi teve a presença de diversos pilotos, e os sul-americanos Felipe Massa e Pastor Maldonado, grandes amigos de Jules, eram os mais emocionados.

Nos anos seguintes, sempre que a Fórmula 1 visitou Suzuka, as homenagens foram muitas, e o local passou a receber flores e cartazes em memória de um grande piloto que poderia ter ido ainda mais longe não fossem as armadilhas inerentes ao esporte a motor. Para manter o legado do filho, Philippe Bianchi criou uma fundação para descobrir e ajudar jovens talentos, com o suporte do Príncipe Albert de Mônaco.

No âmbito desportivo, a tragédia teve consequências. O receio da direção de prova em permitir corridas debaixo de chuva aumentou ainda mais, com cada vez menos largadas paradas no molhado sendo autorizadas e esperas intermináveis pela melhora das condições climáticas em treinos e corridas com chuva. Mas a grande mudança foi a criação do safety car virtual, com os pilotos tendo a velocidade controlada quando a direção de prova assim quisesse em situações de perigo.

De qualquer forma, como sempre acontece nas tragédias, esperaram acontecer uma para tomarem alguma providência. Pena que outra vida foi perdida.

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