A implementação do isolamento social em Manaus implicou na redução histórica de 64% no índice de poluição do ar na capital amazonense. É o que aponta o sétimo boletim do Atlas ODS Amazonas, divulgado nesta quinta-feira (21). O estudo que reúne resultados de pesquisas de ponta de instituições acadêmicas do Estado indicou, também, a queda de 85% da atividade industrial e no comércio na capital amazonense. Na última segunda, um estudo publicado no Atlas apontou picos de óbitos a cada 18 dias de pico de movimentação intensa no trânsito, durante o perído de pandemia.
Os estudos divulgados nesta quinta buscam revelar a trajetória e as ‘portas de entrada’ para a proliferação do novo coronavírus (Covid-19) no Amazonas. Essa é a segunda edição do boletim publicada em menos de uma semana. Essa é a primeira vez que uma pesquisa revela o efeito de medidas de isolamento comparado a emissão de gases que contribuem com o aquecimento global, no Estado.
O cenário de redução de gases poluentes na atmosfera local pode também contribuir para reduzir a proliferação da Covid-19, de acordo com o estudo. "A exposição ao MP2,5 (gás poluente analisado) causa aumento da mortalidade e morbidade respiratória e cardiovascular, asma e infecções respiratórias. Estudos recentes indicam que esse material também pode favorecer a disseminação da Covid-19, aumentando o potencial de contágio pelo vírus", diz trecho da pesquisa "Política de distanciamento social e a qualidade do ar na área urbana de Manaus".
O estudo é assinado por professores do Programa de Pós-graduação em Clima e Ambiente (CLIAMB), Rodrigo Souza e Adan S. Medeiros, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), além do membro do painel global sobre mudanças climáticas (IPCC), Igor Ribeiro. O Atlas tem a coordenação geral do Prof.º Henrique dos Santos Pereira, Phd, coordenação técnica do Prof.º Danilo Egle Santos Barbosa, Phd, e tem como pesquisadores colaboradores a Prof.ª Dr.ª Suzy Cristina Pedroza da Silva e Bruno Cordeiro Lorenzi.
Outras quedas
O efeito cascata do isolamento ocasionou outra queda histórica. O consumo de gasolina caiu para o nível mais baixo de venda dos últimos 20 anos, só em Manaus. A pesquisa considerou o cenário desde o ano 2000 e obteve um resultado de queda de consumo em 20%, desde o início do isolamento no Estado.
O estudo também revela picos de trânsito aos finais de semana durante o período da pandemia. A produção de lixo doméstico na capital segue a mesma trajetória de picos detectados na movimentação de carros, e saltam durante os finais de semana.
Apesar disso, a pesquisa revelou que houve uma redução de 11% na produção do lixo domiciliar. De acordo com a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp), órgão oficial que administra recolhimento de lixo na cidade, o índice se deve à redução da renda da população durante o período da pandemia, o que encontra eco no estudo divulgado pelo Atlas.
O número de passageiros no Aeroporto Internacional de Manaus teve uma redução de 21,7% no mês de março e de 91,7% em abril, relativas aos mesmos períodos em 2019, conforme a pesquisa.
Para obter os dados, os cientistas consideraram cenário antes e depois das medidas de isolamento adotadas no Estado por meio de decretos, sendo considero dia 1 de janeiro a 20 de março como período pré-isolamento e 21 de março até 15 de maio, pós-isolamento.
Empresariado
A pesquisa busca entender como o empresário do comércio de Manaus percebe os efeitos da pandemia na atividade comercial e industrial. Aspectos como o nível de preocupação, demissões, paralisação durante a crise, percepções quanto as medidas de isolamento social, foram analisadas pelos cientistas.
Atualmente, a paralisação total ou parcial da atividade economica no Estado atingiu 85%. 54% das empresas demitiram colaboradores e 6% acreditam que não sobreviverão à crise O sentimento não é só de pessimismo: empresários sentem-se desamparados pelos governos federal (54%) e estadual (75%).
Os pesquisadores alertam para o cenário recessão causado pela pandemia em Manaus. "Os indícios da formação de quadro recessivo são claros e demandam ação rápida e efetiva do setor público", conclui trecho do estudo.
Para salvar a economia, os pesquisadores sugerem uma ampliação na oferta crédito barato e rápido."As linhas de crédito disponíveis apresentam condições interessantes, mas são extremamente morosas e burocráticas, incompatíveis com a urgência do momento", explicam.
Outra medida para contecer avanço da crise sobre a economia, seria que a suspensão de tributos e a redução de tarifas podem auxiliar o processo de manutenção do fluxo de caixa, principalmente das micro e pequenas empresas. "A realidade que se forma é preocupante e o governo precisa, mais que nunca, agir para evitar a profunda perda de qualidade de vida na cidade", expõe.
Rios vetores
Em outro eixo de análise, os pesquisadores verificaram que quanto maior o número de viagens de barco realizadas saindo de Manaus, mais veloz é o aparecimento de casos de covid-19 nos municípios do interior do Amazonas. Essa semana o número de infectados no interior ultrapassou ao número registrado na capital Manaus, com quase 2 milhões de habitantes.
De acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pela Fundação Vigilancia Em Saúde (FVS-AM), enquanto se observa a desaceleração do número de casos na capital, o número de notificações aumenta a cada dia nos municípios do interior do estado. Nas últimas semanas, houve o aumento da proporção de casos nos municípios do interior do estado. Do total de casos confirmados no Amazonas, 47,7% (9.380/19.677) são de residentes do interior.
Conforme o boletim, atualmente, há casos confirmados de Covid-19 em 60 (96,7%) municípios do Amazonas. Santo Antônio do Içá (1.833 casos/100 mil hab.) e Amaturá (1.456 casos/100 mil hab.) são os municípios com maiores taxas de incidência da doença no estado. No Amazonas, a taxa de incidência média de Covid-19 é de 475 casos por 100 mil habitantes, quatro vezes superior à taxa média nacional que é de 144,7 casos por 100 mil habitantes. Por áreas regionais, as maiores incidências são nas regiões do Rio Juruá e Alto Solimões, com 775 e 692 casos por 100 mil habitantes, respectivamente.
Os pesquisadores da Agência Reguladora dos Serviços Públicos Delegados e Contratados do Estado do Amazonas (ARSEPAM), que publicaram o estudo no Atlas, utilizaram dados de abril de todas as viagens regulamentadas realizadas partindo de Manaus, e o número de óbitos registrados até 18 de maio em cada município de destino.
Os pesquisadores concluem que quanto menor o número de viagens, mais tempo decorreu entre o surgimento do primeiro caso diagnosticado no município.
"Essas observações sugerem que, como poderia ser previsto, um maior número de viagens partindo de Manaus pode aumentar a probabilidade de difusão da doença do epicentro da pandemia para outra região, assim como, provocar a inserção de mais indivíduos contaminados na cidade de destino, produzindo uma aceleração da progressão da pandemia naquela determinada população. Isso também explicaria a “precocidade” da difusão da pandemia e elevada taxa de incidência em municípios distantes de Manaus como Santo Antonio do Iça (881 km) e Tonantins (872 km). Também poderia explicar por que a difusão e a progressão da pandemia em outros municípios igualmente distantes, como Itamarati (985 km) ou mais próximos como São Sebastião do Uatumã (247 km) tenham sido mais lentas", explicam.
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