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Em cruzeiro, casal se diz esquecido pelo governo brasileiro e agora testa positivo para coronavírus

O casal de brasileiros está em isolamento desde o dia 23 e, domingo, descobriu que os dois testaram positivo para Covid-19.

13/04/2020 às 18h42
Por: Jéssyca Seixas Fonte: Metrópoles
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Reprodução
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A arquiteta de tecnologia Ligia Cossina, de 36 anos, e o marido Thiego Paes, gerente de projetos, de 34 anos, se dizem esquecidos pelo governo brasileiro e pela empresa Costa Cruzeiros. O casal está confinando em cabine do cruzeiro Costa Victoria, atracado no porto de Civitavecchia, na Italia, desde o dia 24 de março, após constatar que uma turista argentina estava com coronavírus. Ela desembarcou em Creta, na Grécia, no dia 22, e o navio seguiu para a Italia. O casal de brasileiros está em isolamento desde o dia 23 e, domingo, descobriu que os dois testaram positivo para Covid-19.

A brasileira conta que vai completar dois dias que recebeu o resultado do exame e que não sabe "absolutamente mais nada". Disse que ninguém informou sobre os próximos passos, quando farão novo exame e quantos dias mais terão de ficar no navio.

– Fui contaminada durante o isolamento, porque só tive contato com a tripulação que nos traz comida. Uma vez recebi talheres sujos, além disso as bandejas ficam no chão do corredor. Que nível de cuidado com higiene eles tem? Nossos apelos para não passarmos a quarentena na Itália foram ignorados – desabafa Ligia, que fez o exame no 17.º dia de confinamento, no último dia 8, e recebeu o resultado neste domingo. – Além de tudo isso, excederam e muito o prazo estipulado para o isolamento. Uma tragédia anunciada. Estamos inconsoláveis, incrédulos e traumatizados diante deste pesadelo que não tem fim.

Ligia, que foi separada do marido, diz que se sente bem fisicamente e que não teve febre. Mesmo assim, afirma que está "em luto, que foi aprisionada e encurralada em circunstâncias jamais imaginadas".

– Na semana retrasada tivemos um leve mal estar, dor no corpo e resfriado. Mas não tivemos aumento de temperatura. Estamos nos sentindo bem. Nos separaram de cabine e explicaram que assim seria melhor para a nossa recuperação. Nos disseram apenas para deixar o ar circular pela cabine. 

Eles ficaram para trás

Após o diagnóstico para Covid-19, Ligia e o marido ficaram para trás. Seis brasileiros, que testaram negativo para a doença, voltaram para casa no final de semana. Eram dez brasileiros em viagem e seis tripulantes. Outras duas pessoas aguardam o resultado do teste.

Mesmo os brasileiros que já chegaram no país contaram que passageiros de outras nacionalidades tiveram tratamento prioritario e que foram repatriados com mais rapidez.

Segundo Ligia, todos os passageiros faziam duas medições de temperatura diárias, em um salão isolado do navio. Disse que os passageiros iam aos poucos, mantinham distanciamento, usavam máscaras e tinham acesso a álcool em gel. O processo, ela disse, era rápido.

Ligia conta ainda que pode perceber que há outras poucas pessoas a bordo e que tem tripulantes recebendo cuidados como se estivessem contaminados. Afirmou também que pela janela da sua cabine (ela e o marido chegaram a ficar oito dias em isolamento em uma pequena cabine interna, sem janela), pode ver também que tripulantes saem do navio e tem contato com outras pessoas do porto. 

O cruzeiro Costa Victoria está atracado no porto de Civitavecchia, na Itália após única parada turística em Omã e outra, na Grécia, apenas para o desembarque da passageira, argentina, que estava com os sintomas da Covid-19.

Seu teste teria dado positivo e desde então todos os passageiros do navio entraram em isolamento. Eles foram impedidos de desembarcar porque a Itália fechou seus portos a embarcações estrangeiras para tentar evitar a propagação do novo coronavírus.

Cruzeiro chegaria m Veneza

Desde o início do isolamento, um grupo de brasileiros contou que a empresa Costa Cruzeiros havia entrado em contato com o governo do Brasil para repatriá-los. Por causa da demora por respostas, um deles ligou para o Consulado do Brasil em Roma e descobriu que o governo brasileiro não tinha conhecimento da situação deles.

O episódio se confirmou no dia 28 de março, quando o Cônsul-Geral do Brasil em Roma, Afonso Carbonar, acompanhado de funcionário diplomático do consulado, esteve em Civitavecchia para conversar com os brasileiros retidos e com as autoridades italianas competentes. Segundo Ligia, eles não sabiam, ao certo, como os brasileiros estavam.

– O descaso da Embaixada Brasileira, do Consulado brasileiro em Roma e da empresa Costa Cruzeiro resultou em nossa contaminação – afirma Ligia.

A viagem do cruzeiro teve início no dia 29 de fevereiro em Mumbai, na Índia, e tinha previsão para chegar ao fim no dia 28, em Veneza. Eles embarcaram em Dubai, no dia 7 de março. O cruzeiro passaria por Omã, Israel, Jordânia, Grécia, Croácia e Italia.

Ligia contou que desde o início, a viagem apresentou algumas alterações no roteiro, mas a empresa "encorajou e prometeu" cumprir com os destinos.

O casal embarcaria nas Ilhas Maldivas mas começou a viagem em Dubai, por exemplo. Ela explicou que o avaço da doença foi muito rápido e que quando iniciaram a viagem o quadro mundial era outro, sem epicentros na Europa. Como o cruzeiro não faria paradas na Europa, eles não cancelaram a viagem.

O que o governo diz

Procurado pelo O GLOBO, o Itamaraty informou que acompanha e busca soluções para os brasileiros que se encontram em navios de cruzeiros e tem dificuldades para retornar ao Brasil.

Lembrou que o Consulado do Brasil em Roma está há vários dias em contato com os passageiros brasileiros e que no ultimo dia 3, o Cônsul em Roma esteve no porto de Civitavecchia para conversar com os brasileiros retidos.

Via nota, explicaram que diversas gestões foram realizadas no sentido de melhorar as condições dos passageiros e citou: melhores condições de hospedagem (o que foi obtido), pedidos de esclarecimentos e de otimização da aplicação do sistema de quarentena (também logrado), solicitações formais à operadora de cruzeiros e à Unidade Sanitária responsável pela região de Civitavecchia para que o teste para Covid-19 fosse agilizado (que foi feito).

Frisou que a "repatriação de passageiros de navios é de responsabilidade da empresa de cruzeiros, que tem colaborado com o governo brasileiro neste processo". 

Admitiu, porém, que os passageiros de outras nacionalidades teriam desembarcado sem quarentena mas ressaltou que "nesses casos, os quarentenados foram encaminhados diretamente para voos ou ônibus exclusivos para sua repatriação, sob a condição de que não desembarcassem, em momento algum, em território italiano".

Ressaltou que a quarentena é uma exigência das autoridades italianas para que os brasileiros possam ser posteriormente embarcados em voo de repatriação providenciada pela operadora do cruzeiro.

"O Ministério das Relações Exteriores mantém diálogo permanente e fluido com o governo italiano e a empresa de cruzeiros com o objetivo de encontrar solução para o caso."

Outro lado

A Costa Cruzeiros informou via assessoria de imprensa que "tem trabalhado incansavelmente em estreito contato com as autoridades italianas relevantes de saúde e com os representantes diplomáticos dos países envolvidos, a fim de obter retorno seguro para os hóspedes em seus países de origem.

Explicou que enquanto o navio Costa Victoria estiver na Itália precisa seguir "as diretrizes fornecidas pelas autoridades de saúde italianas, que realizam exames de saúde constantes a bordo, juntamente com a equipe médica a bordo."

Também disse que "o cenário do transporte aéreo apresenta alto nível de incerteza, devido a inúmeras medidas, incluindo bloqueios totais adotados por quase todos os países do mundo". E que segue "em constante contato com as autoridades envolvidas para encontrar uma solução que possa ser operada em breve."

Além disso, garantiu que os hóspedes brasileiros estão sendo contatados por cartas, enviadas em suas cabines, com informações sobre os procedimentos antes do desembarque.

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