A retomada da vida normal após a pandemia será lenta, progressiva e diretamente relacionada às medidas de contenção tomadas atualmente. Quanto mais pessoas seguirem o isolamento social, menos infectados e doentes ocuparão os hospitais. Mas aquela ‘vida normal’ não será como antes. Esse é o cenário do fim da pandemia projetado por epidemiologistas, infectologistas e virologistas consultados pela reportagem.
A fase exponencial de aumento de casos ainda deve durar alguns meses. O clínico e infectologista Paulo Olzon, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que, quando uma parte grande da população, em torno de 50%, estiver imunizada, ou seja, tiver contato com o vírus e criado anticorpos, a curva de casos deve começar a cair. A partir daí, a transmissão diminui e a doença regride.
Isso significa que não haverá um dia da virada, portanto. “Podemos ter casos de doentes nesta fase, mas aos poucos a imunidade da população deve ir aumentando, o que pode diminuir a transmissão. Deve-se levar em conta que pessoas recuperadas podem ser novamente infectadas”, opina o virologista Paulo Eduardo Brandão, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP.
A médica sanitarista Ana Freitas Ribeiro, do Instituto de Infectologia do Hospital Emílio Ribas, afirma que a China observa número reduzido de casos de transmissão local após o fim das medidas de distanciamento social. “Isso pode estar relacionado às medidas de detecção de casos, isolamento dos doentes e quarentena dos contatos.”
Os especialistas afirmam que os próximos meses serão marcados pela luta por vacina e tratamento. Um dos ensaios clínicos vem sendo desenvolvido pelo médico gaúcho André Kalil na Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos. O infectologista de 53 anos conduz estudos sobre a droga remdesivir, que já apresentou efeitos contra doenças como a Sars, por exemplo, em animais e no ambiente laboratorial (in vitro). Mas o estudo foi planejado para três anos. “A ideia não é testar uma só droga, mas várias”, diz Kalil, que trabalha nos Estados Unidos há 20 anos.
Nessa busca de soluções para o novo coronavírus, a luta contra outras doenças pode ser favorecida. São os casos da tuberculose, aids, raiva e leishmaniose. “Já passamos por isso em outras pandemias, como cólera, peste e influenza. A humanidade mudou e seguiu em frente”, avalia Paulo Brandão.
Já o cirurgião de coluna Luiz Cláudio Lacerda Rodrigues, professor da Faculdade de Medicina Santa Marcelina, direciona seu olhar para o lado emocional. “As pessoas vão demorar a perder o medo do abraço.”
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