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Associada ao açaí, doença de Chagas ressurge no Amazonas

Grupo de pesquisa da Fundação de Medicina Tropical já registrou seis surtos da doença

19/11/2018 às 13h59
Por: Jéssyca Seixas Fonte: Em Tempo
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Divulgação
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 A doença de Chagas é uma infecção causada por um parasita chamado Trypanosoma cruzi (T. cruzi), presente em um inseto conhecido popularmente como ‘Barbeiro’. Característica da região Nordeste do Brasil, onde já é considerada endêmica, a doença de Chagas na Amazônia é classificada como emergente, ou seja, significa que ela está surgindo em um cenário onde há pouco tempo não existia.

De acordo com dados disponíveis no Sistema de Informação de Agravos de Notificações, plataforma do Ministério da Saúde (MS), no ano de 2017 foram notificados oito casos confirmado para doença de Chagas no Amazonas.

Destes casos, cinco foram em Manaus, e um nos municípios de Lábrea, Tefé e Coari. A maior parte das infecções por T. Cruzi, segundo a base de dados do MS, ocorre por via oral.

Surtos na Amazônia

A Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMTHVD), situada no bairro Dom Pedro, zona Centro-Oeste, é referência em Manaus na área da pesquisa científica e no tratamento desta enfermidade. A bióloga Graça Barbosa, doutora em entomologia e pesquisadora na FMTHVD, demonstra que os números do Amazonas são bem mais elevados, com seis surtos registrados no Estado.

“Aqui na FMT integro um grupo de pesquisa voltado para Leishmaniose e doença de Chagas. Ao longo dos 12 anos de existência deste grupo, já registramos seis surtos da doença de Chagas. O último ocorreu no município de Lábrea, nos meses de dezembro de 2017 para janeiro deste ano, onde 20 pessoas foram diagnosticadas com chagásica, por meio da ingestão de açaí,” declarou Barbosa.

Segundo a pesquisadora, os outros cinco surtos ocorreram nos município de Tefé (nove casos em 2004); Coari (25 casos em 2004); Santa Isabel do Rio Negro (17 casos em 2010); Carauari (dois casos em 2013 e 2015). Ela destaca que a contaminação ocorre no momento em que o ‘Barbeiro’ está picando  e, ao mesmo tempo, defeca as fezes contaminadas com T.Cruzi na  pele do indivíduo.

“A pessoa ao coçar a região onde foi picada, acaba que espalha as fezes contaminadas na pele, é nesse momento que ocorre a entrada do parasita. O ‘barbeiro’ faz parte do ciclo biológico deste protozoário, que ora é realizado no inseto, ora em animais vertebrados. Pesquisadores já encontraram o T. Cruzi nas mucuras. Ela é o único animal vertebrado onde o parasita consegue realizar o ciclo completo”, pontuou a pesquisadora.

Contaminação oral

Quando se fala em doença de Chagas, a população já associa ao consumo de açaí. Não existe uma explicação clara que justifique a presença do ‘barbeiro’ no licor do fruto.

O médico infectologista e especialista em Leishmaniose e Chagas, Jorge Guerra, que também faz parte do grupo de pesquisa na FMTHVD, explica que a contaminação por via oral ocorre por meio de ingestão de carnes mal cozidas e alimentos crus, que tiveram contato com as fezes do ‘barbeiro’ contaminado com T. Cruzi.

“A via de transmissão oral pelo Brasil é o caldo de cana. Na Amazônia é o açaí. Os dois casos ocorre por um acidente. O ‘barbeiro’ pode cair no taxo de açaí em vários momentos, desde a coleta na palmeira, até chegar o licor no meu copo. O ‘barbeiro’ é inseto silvestre. Ele vive nas palmeiras de açaí, buriti e outros frutos. Não é que ele gosta do açaí, ele só está ali por um acaso”, declarou o médico.

Fase aguda e crônica

Guerra explica, ainda, que a doença de Chagas é divida em fase aguda e crônica. Na fase aguda, detectável por meio do exame da gota espessa, é mais simples de identificar uma vez que o indivíduo chega com sinais clínicos característicos da doença como febre, dor no corpo, nos músculos e forte palpitação. A fase crônica é o grande desafio neste caso.

“A fase crônica demora muito tempo para se manifestar. Às vezes o indivíduo é infectado hoje e só vai sentir algum sintoma daqui 10 anos, por exemplo. Do ponto de vista clínico, a fase crônica não se manifesta rapidamente. Geralmente dois testes de diferentes métodos são feitos para atestar que o paciente está na fase crônica. Esta fase da doença de Chagas pode causar o aumento do coração ou do intestino”, complementou Guerra.

Um cenário que exige preparo

A pesquisadora Graça Barbosa, ressalta que o técnico em endemias que realiza o exame da gota espessa, está preparado para identificar o T. Cruzi. “O técnico está treinado para identificar o tripanossoma na lâmina. Mas, o Estado precisa se preparar para essa doença. Ainda há muito que aprender com ela. Os técnicos precisam entender que a doença de Chagas é uma possibilidade entre a população do Amazonas”, ponderou.

Ao encontrar um ‘barbeiro’ dentro de casa, a orientação é não matá-lo, mas, capturar o inseto e leva-lo até o Laboratório de Entomologia situado nas dependências da FMTHVD. “Os ‘barbeiros’ não entram em casa. O homem que vai para o meio do mato e tem contato com ele. O que ocorre são casos isolados em apartamentos que foram construídos nas áreas de floresta. Acredito que não existe vilão nessa a história. É só o ciclo natural da vida”, enfatizou Barbosa. 

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