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'Foi muito desesperador, muita gente chorando', relatou médico de Manaus após falta de oxigênio para pacientes

Anfremon D'Amazonas contou da luta para manter a vida dos doentes e da mobilização de sua equipe, alertando para a situação da cidade

15/01/2021 às 11h32
Por: Fernanda Souza Fonte: O Dia
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Reprodução
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Em meio ao colapso e a falta de oxigênio dos hospitais em Manaus, no Amazonas, o médico Anfremon D'Amazonas narrou em uma rede social a batalha para salvar pacientes, mobilizar equipes e a dor das vítimas que não puderam ser salvas. Em seu trabalho no Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), na capital amazonense, valorizou sua equipe que chegou ao ponto de fazer racionamento entre os doentes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do local.

“Foi muito desesperador, muita gente chorando”, contou em seu relato. D’Amazonas explicou que a deterioração do corpo de uma pessoa sem o nível adequado de oxigênio é muito rápida, assim como sua morte. “Os doentes dessaturam muito rapidamente, a pressão começa a cair. Foi bem dramático, assustador”, lamentou.Ele contou que muita gente chorava no HUGV, enquanto as equipes faziam o possível para manter a vida dos pacientes com o que tinham à disposição. De acordo com ele, foram três pessoas mortas entre os 27 doentes internados na UTI. “Os pacientes morriam e você não tinha o que fazer. Cada uma dessas perdas chocou demais a equipe porque é aquela sensação de impotência. A gente sabe que o que aquele doente precisa naquele momento é de oxigênio, mas é a única coisa que você não tem para ofertar”, afirmou.

Durante o cenário caótico, mais médicos do que os que normalmente trabalham naquele hospital se mobilizaram para a situação, segundo D’Amazonas. O trabalho intenso envolveu não somente as tarefas médicas, mas alguns profissionais contribuíram na corrida pelas balas de oxigênio que faltavam e estiveram ao lado ajudando a amenizar o sofrimento das pessoas no local.

“A gente buscou balas de oxigênio de outras alas do hospital, que geralmente são usadas para transporte. Geralmente a gente usa uma bala para cada dois respiradores, mas fomos racionando o uso do oxigênio. Tentamos, na medida do possível, não deixar ninguém sem. Fomos personalizando o racionamento de acordo com a necessidade de cada paciente. Quando cheguei lá, já havia muita gente na UTI. Alguns colegas vieram de casa para ajudar”, relatou.

Anfremon D'Amazonas parabenizou a equipe e alertou para o colapso na rede hospitalar da cidade. De acordo com ele, outras pessoas que estavam no setor de enfermaria já começaram a ter um estado de saúde mais grave:

“Todo mundo atendeu o chamado para prestar socorro à sua maneira. Além dos doentes que foram transferidos e os que, infelizmente, vieram a falecer, vários doentes passaram mal no andar das enfermarias, tiveram que ser entubados. E no meio desse caos todo, a gente ainda admitiu esses doentes na UTI”, contou.

“Manaus vive uma situação de caos desde as festas de final de ano até agora. A gente está vivendo a segunda onda da pandemia do covid-19. Ela é devastadora, aniquila. As coisas estão muito diferentes. O vírus é mais agressivo. Tem doente que piora já no quinto, sexto dia”, completou o médico.

D’Amazonas declarou que votou em Bolsonaro nas eleições de 2020, mas fez questão de criticar o governo: “Infelizmente tem sido negacionista em relação à pandemia. Relativiza tudo, banaliza tudo. A última foi dizer que o que está acontecendo aqui em Manaus é porque a gente não faz tratamento precoce. Isso é sacanagem com o profissional da área de saúde que trabalha todo dia. Vejo pelo menos 50 doentes por dia, nas últimas duas semanas. Todos eles fizeram tratamento precoce. Isso é sacanagem com a gente que trabalha aqui”, disse, com revolta.

“Em vez de o governo fazer manobras evasivas e dizer que está tudo bem, tem que preparar o país contra a segunda onda. Se preparem, porque ela é devastadora, cruel e vai levar muitas vidas”, alertou o profissional.

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