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Governo Bolsonaro censura cientista por propor lockdown em Manaus

A censura coincide com as críticas do presidente Jair Bolsonaro a proposta feita nesta terça-feira (29) pelo prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB), ao governador Wilson Lima (PSC), para decretar lockdown na capital, por um período mínimo de duas semanas.

30/09/2020 às 09h56
Por: Fernanda Souza Fonte: BNC
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O pesquisador Jessem Orellana recebeu um aviso do setor de comunicação da Fiocruz-RJ (Fundação Oswaldo Cruz) lhe proibindo de se identificar como sendo do órgão quando alertar sobre a existência da segunda onda do coronavírus (covid-19) e sugerir “lockdown” (isolamento total) em Manaus.

Orellana é da Fiocruz/Amazônia e a orientação partiu da área da instituição ligada diretamente à Presidência da República.

Por meio da assessoria, o órgão comunicou que não recomenda o fechamento das atividades.

A censura coincide com as críticas do presidente Jair Bolsonaro a proposta feita nesta terça-feira (29) pelo prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB), ao governador Wilson Lima (PSC), para decretar lockdown na capital, por um período mínimo de duas semanas.

Lima já descartou essa possibilidade.

Com o crescimento do número de casos na cidade, o prefeito tomou algumas medidas para evitar aglomerações como o fechamento da praia Ponta Negra e a maior rigor na fiscalização sanitária no comércio.

Ele citou uma pesquisa da Fiocruz que indica a chegada da segunda onda da pandemia na cidade.

“Não posso dizer que já há uma segunda onda, mas confio na Fiocruz. Não sou cientista, não posso asseverar cientificamente, mas eu temo essa segunda onda”, disse.

“A gente vê agora absurdos. O prefeito de Manaus falou que tá esperando uma sugestão do governador pra decretar o lockdown. Ô, cara, essa política acabou, cara. Eu falei lá em março que tava errada essa política”, criticou Bolsonaro no encontro com seus apoiadores nesta terça-feira.

“Tá tudo dando, certo, o que eu falei. Não tenho bola de cristal não. (É preciso ter) um pouco de raciocínio, um pouco de estudo e coragem pra decidir. Ser presidente, governador, prefeito não é sentar na cadeira e esperar a banda passar, tem que tomar decisões em momentos difíceis”.

Censura

Orellana diz que a posição da Fiocruz-RJ é, no mínimo, desprovida de amparo científico e apenas reforça a narrativa do presidente Bolsonaro.

“Pedi provas documentais/científicas e essa pessoa recuou dizendo que, na verdade, dependia de bom senso. Essa pessoa ainda me chamou de sem noção por ter aventado a possibilidade de lockdown em Manaus”, lamentou o pesquisador.

Ele explicou que apenas reforça nas entrevistas que quando falhamos com medidas menos extremas, caso de Manaus, só resta o lockdown.

Lembrou que essa não é a primeira vez que a censura é aplicada.

“Em junho um documentário que seria veiculado pela EBC foi suspenso, depois de ampla divulgação”, afirmou.

“Detalhe, tinha uma fala minha e, talvez de outros cientistas, criticando a forma ineficaz que o governo federal vinha administrando a epidemia. Resultado? Suspenderam o programa de última hora. Até entendo, pois trata-se de emissora do governo. Agora, a Fiocruz fazendo isso comigo é dureza!”, protestou.

O pesquisador diz que a partir de agora vai se abster de comentários sobre a situação de Manaus.

“Creio que fiz o que estava ao meu alcance, pois tenho emitido alertas desde agosto e agora, quase 40 dias depois, a realidade é a que temos acompanhado: número de infecções aumentando, de casos novos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), de internações em leitos clínicos e de UTI”, lamentou.

Orellana diz que chegou ao seu limite. “Daqui em diante, cabe a sociedade e ao poder público decidirem nosso futuro. O que me preocupa é que o contexto atual é o mesmo de março, quando havia uma certa apreensão, mas ninguém nunca imaginou o que poderia acontecer em abril/maio: uma catástrofe sanitária sem precedentes”, comentou.

Ele diz que não teremos nada parecido com a primeira onda nos próximos meses. “Mas, naturalizar adoecimentos e mortes é algo grave, desumano e antiético”, reclamou.

Disse que como epidemiologista seu dever é o de antecipar o pior, ajudando a poupar vidas e mais sofrimento.

“Mas, vejo que o modelo hegemônico é o de contar mortos! Saibam que me retiro de cabeça erguida e com a sensação de dever cumprido. Nas duas últimas horas recebi três pedidos de entrevistas, entre eles um da BBC, mas optei pelo silêncio moral e pelo mais profundo repúdio a tudo que tenho acompanhado”.

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