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‘Caguei e cagaria novamente’, diz artista que defecou em cartaz de Bolsonaro

Priscilla Toscano afirma que a ação realizada em 2016 foi um manifesto artístico-político contra tudo o que Bolsonaro representa

03/06/2020 às 12h57 Atualizada em 03/06/2020 às 13h04
Por: Fernanda Souza Fonte: Catraca Livre
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Reprodução
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Tudo nesta vida envolve política. A política também permeia a arte, como a intervenção urbana de Priscilla Toscano, 36 anos, a artista que no dia 23 de abril de 2016 cuspiu, urinou e defecou num cartaz com a foto de Jair Bolsonaro, que na época ainda era deputado federal do país. 

Quatro anos depois deste episódio, a Priscilla afirma que recebeu ameaças graves, passou por mudanças de visual e também de endereços, enfrentou os seus haters e não se intimidou. Em vez disso, ela deu continuidade em outras performances e alcançou projeção internacional com convites para se apresentar em diversos países, além de estar atualmente concluindo um mestrado acadêmico justamente focado na pesquisa de performances e intervenções urbanas.

A performance

Máfia foi uma intervenção artística que realizei com o grupo Desvio Coletivo no Vão do Masp em 2016. A ação foi um manifesto político criativo que aconteceu no auge do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Para quem não se lembra, a sessão foi comandada por Eduardo Cunha, que meses depois foi preso durante uma ação da Lava Jato acusado de ter recebido US$ 5 milhões de propina em contratos da Petrobras.

Entre os discursos inflamados dos deputados, a parte que mais me chocou foi a homenagem feita por Bolsonaro a um torturador dentro do plenário do Congresso Nacional. “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de todos, o meu voto é sim”, disse ele.

Diante daquele absurdo político no qual o Bolsonaro não saiu algemado do congresso por quebra de decoro parlamentar ao homenagear um torturador, nós planejamos uma ação artística para expressar repúdio ao seu ato e também aos muitos outros deputados que votaram a favor do impeachment, com discursos recheados de “Em nome de Deus e pela honra da família brasileira”, sendo que 40 deles eram réus em crimes relacionados a corrupção e muitos apareceram meses depois da lista de delação da Odebrecht, uma das maiores investigações do país que revelou mais de R$1 bilhão em propinas.

Cada integrante do meu grupo escolheu uma foto de um político diferente e nós estendemos todos os cartazes como se fossem obras expostas no museu. Durante as duas horas da realização da performance, eu permaneci cuspindo na mesma imagem, a fotografia do então deputado federal Jair Bolsonaro. Em determinado momento, passamos a convidar o público que passava pela avenida Paulista para participar também cuspindo nessas imagens, dando sentido à exposição interativa. Dezenas de pessoas entraram no jogo e cuspiram junto com os artistas envolvidos na intervenção. Foi aí que uma mulher transeunte que vinha observando ativamente a exposição, cuspindo de imagem em imagem, parou diante de mim e disse que cuspir era pouco para interagir com a “obra Jair Bolsonaro”. Então, eu decidi que além de cuspir, eu deveria acrescentar outra ação que estivesse de acordo com o pedido do público e ainda utilizasse a metáfora como forma de linguagem. Como eu estava usando um vestido, tirei a calcinha sem obviamente expor as minhas genitais, me agachei sobre a imagem, urinei e em seguida defequei. Sim, eu realizei essa ação com a intenção de causar um choque na percepção de parte da população que, aparentemente anestesiada, parecia encarar com naturalidade posições políticas que são inaceitáveis, como uma homenagem à tortura dentro do plenário. Naquela época, eu não poderia imaginar que o fato de uma mulher defecar em público poderia ser mais chocante do que aquela atitude do Bolsonaro.

Atualmente, eu percebo que essa parcela da população não se chocou com o elogio ao torturador, pois de fato essas pessoas não veem nenhum problema neste tipo de conduta e, por isso mesmo, elas o elegeram como presidente. E elas teriam elegido o Ustra também se ele ainda estivesse vivo e fosse candidato. É por isso que as falas atuais do Bolsonaro já não me surpreendem mais, nem mesmo quando ele minimiza uma pandemia a chamando de “gripezinha”. Pra quem homenageou um torturador, o atual “E daí?” diante das milhares de mortes causadas pelo Covid-19 apenas evidencia o discurso genocida do atual presidente do país.

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