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Após demissão de Moro, Congresso vê 'crise política consolidada' com desfecho imprevisível

Moro afirmou que Bolsonaro atuou para ter acesso a relatórios de inteligência da Polícia Federal, o que pode ensejar um processo por crime de responsabilidade.

24/04/2020 às 19h19
Por: Jéssyca Seixas Fonte: Extra
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O pedido de demissão do ministro da Justiça, Sergio Moro, consolidou no Congresso a certeza de que há uma "crise política" com desfecho imprevisível. Parlamentares acompanharam perplexos o anúncio da saída do ministro, que fez acusações graves contra o presidente Jair Bolsonaro.

A avaliação de líderes da Câmara e do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é a de que a situação é "grave". Moro afirmou que Bolsonaro atuou para ter acesso a relatórios de inteligência da Polícia Federal, o que pode ensejar um processo por crime de responsabilidade.

Uma das impressões trocadas entre líderes e a cúpula da Congresso é a de que esta sexta-feira causou tanto espanto quanto a revelação da delação da JBS no governo Michel Temer. Os parlamentares devem esperar o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro para avaliar o cenário como um todo e assim poder elaborar respostas à crise política.

— Já temos uma crise de saúde, econômica e agora se consolida efetivamente uma crise política. Um cenário extremamente complicado -— diz Efraim Filho, líder do DEM.

Um dos receios dos parlamentares para prosseguir com a acusação de crime de responsabilidade e, assim, instaurar processo de impeachment, é o fato de o país ser obrigado a lidar, em primeiro lugar, com uma pandemia. Mas já há deputados que falam abertamente sobre essa possibilidade, como o líder do Podemos, Léo Moraes (PODE-RO). Ele diz que a demissão de Moro cria instabilidade.

— Caso sejam mais aprofundadas as denúncias, o Congresso pode atuar. É preciso aprofundamento. Mas é muito sério, porque fere o princípio basilar da administração pública, que é a impessoalidade. Temos que ter muita atenção, muita responsabilidade, espírito público, de modo que o Congresso tenha a percepção do momento, também da opinião pública e, principalmente, a imparcialidade para conduzir o processo desta maneira - diz Léo Moraes.

Partidos e líderes, tanto na Câmara quanto no Senado, saíram em defesa de Moro após a demissão. Em nota, o PSDB diz que "Bolsonaro nunca quis um governo de técnicos qualificados" e que o agora ex-ministro "mostra que o presidente quer apenas um governo dos que baixam a cabeça para ele e os filhos, no lugar de agirem pelo país".

"A verdade é que a PF conduz investigações que incomodavam a família Bolsonaro – sobre ameaças à democracia", diz a nota do PSDB.

Presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Simone Tabet (MS) diz que “Moro tem história e histórico" para que as "declarações bombásticas" sejam "levadas a sério".

— (Moro) afirmou taxativamente que o presidente queria intervir politicamente na PF, ter acesso indevido a inquéritos e produzir relatório de inteligência, sabe-se lá contra quem. Este filme nós já conhecemos. Estas acusações, se comprovadas, são gravíssimas, e podem caracterizar crime de responsabilidade — diz a senadora.

Líder no Senado pelo partido pelo qual Bolsonaro foi eleito, Major Olímpio (PSL-SP) afirmou que a PF vai "cumprir a lei, doa a quem doer". Em recado velado às interferências de Bolsonaro citadas pelo agora ex-ministro, o senador afirmou que Moro estava sem paciência, e que as investigações não terão intervenção.

— Sergio Moro sai, deu pra ele, não suportou mais. Sua paciência chegou ao limite. E no seu compromisso com o Brasil, jamais permitiria, enquanto ministro, interferência na Polícia Federal. Mas enganam-se aqueles que acham que vão interferir na PF e nas investigações que estão em curso ou que virão. Podem tirar o cavalo da chuva. Seja quem for vai tratar com isenção e no limite da lei. Parabéns ao Sergio Moro, mas eu tenho certeza absoluta que a PF, polícia de estado, de governante nenhum, vai cumprir a lei, doa a quem doer.

Álvaro Dias (PR), líder no Senado do Podemos, um dos partidos mais entusiastas da Lava-Jato, destacou que as declarações de Moro sobre a atuação de Bolsonaro demonstram crime de responsabilidade, mas afirmou que um processo traumático neste momento de pandemia seria ruim para o país.

— O que o ministro coloca é muito grave, são denúncias gravíssimas. Se constituiriam, se nós quiséssemos colocar combustível no incêndio numa hora difícil para o país, em fundamentos para um processo de impeachment. Se configura claramente crime de responsabilidade. Mas o que fica claro mesmo é a opção do presidente, ele fez uma opção pelo lado que sempre esteve na militância política dele, que é o Centrão e o sistema de barganha permanente, loteamento de cargos, balcão de negócios, toma lá dá cá, e com isso vai perdendo o apoio das pessoas mais sérias do país.

Em suas redes, os senadores também se referiram ao pronunciamento de Moro como uma "delação premiada", destacando a afirmação de Moro de que Bolsonaro queria informações privilegiadas de investigações da Polícia Federal. Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da Oposição no Senado, afirmou que é preciso averiguar declarações do agora ex-ministro. "Agora precisamos atentar para o seguinte: a coletiva de Moro foi um depoimento de delação premiada! Vamos averiguar todas as declarações do agora ex-ministro Sérgio Moro e tomar as medidas cabíveis."

O petista Humberto Costa (PT-PE) também usou o termo para se referir às declarações de Moro no fim desta manhã, afirmando que Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade. "Estamos diante de um caso de delação premiada feita pelo ministro da Justiça contra o presidente da República. Ele é a principal testemunha dos crimes de responsabilidade cometidos pelo chefe do Executivo".

A líder do Cidadania na Casa, senadora Eliziane Gama (MA), também recorreu à rede para questionar as atitudes de Bolsonaro relatadas por Moro. Para ela, a saída do ex-juiz "expõe a falência do governo federal", que quebrou o discurso de combate à corrupção para impedir investigações incômodas e se aliar ao chamado Centrão, praticando a troca de cargos que sempre foi alvo de críticas do presidente.

"É de extrema gravidade o que foi informado pelo Sergio Moro que o presidente Jair Bolsonaro pedia relatórios constantes sobre as investigações em andamento na Polícia Federal. Por que o interesse pessoal do presidente em saber detalhes das investigações? O que o presidente teme?", questionou a senadora em sua conta no Twitter.

Eliziane também lembrou da independência da PF em investigações nos governos anteriores. Líder do PDT, o senador Weverton (PDT-MA) também disse ser "inadmissível" a tentativa de Bolsonaro para ter acesso privilegiado investigações e inquéritos. O líder do partido também citou a interferência política na PF como um fato "curioso". "É curioso também ver o ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, reconhecer que no governo de Dilma Rousseff, ao contrário do que acontece no governo Bolsonaro, havia liberdade e autonomia da PF. Nada como o tempo para a corrigir a história.", comentou o líder nas redes.

Aliado de Moro e presidente da bancada da bala, o deputado Capitão Augusto (PL-SP) lamentou a saída de Moro. Em nota, ele diz que Bolsonaro não deixou outra saída para Moro ao tentar interferir na Polícia Federal. 

"A bancada da Frente Parlamentar da Segurança Pública irá se reunir para decidir os caminhos que serão trilhados daqui para frente, mas, desde logo, reafirma sua tristeza e decepção com a saída do dr. Sergio Moro do Ministério da Justiça e da Segurança Pública".

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