Autor do principal sermão do “Culto de gratidão pela vida do presidente”, realizado em Manaus pela Igreja Assembleia de Deus, na noite desta terça-feira, dia 29, o escritor e juiz federal William Douglas, do Rio de Janeiro, recebeu um aceno do presidente Jair Bolsonaro sobre uma das duas vagas que indicará para o Supremo Tribunal Federal (STF).
O magistrado preenche o perfil de “ministro terrivelmente evangélico” que o presidente definiu, como desejo seu, para se tornar membro da Suprema Corte.
Em seu discurso no culto, Bolsonaro começou sua fala elogiando Douglas, dizendo que já havia ouvido falar dele. “Já ouvir falar do senhor e nesse pouco tempo que pregastes aqui, muito aprendi”.
Mais à frente voltou a fazer interlocução direta com o pregador, quando falou sobre um projeto do Ministério da Agricultura para liberar o plantio de cana-de-açúcar na Amazônia.
“Quando se falar, prezado William, como o senhor disse aqui há pouco, que nós podemos fazer muito, parece que não, mas podemos. Eu fiquei surpreso há poucos meses, quando a ministra Tereza Cristina, da Agricultura, falou que tinha um decreto presidencial. Olha só: tinha um decreto presidencial que impedia plantar cana no estado do Amazonas. Olha que absurdo!”
E continuou:
“Ela falou que queria que esse decreto fosse revogado, mas ia sofrer um grande desgaste porque os ambientalistas iriam criticar. E eu falei pra ela: ministra, se eu não me sujeitar a desgaste, o que eu estou fazendo aqui?”.
Pouco antes disso, ele reiterou que vai preencher uma das duas indicações ao STF com um evangélico e até indicou os requisitos:
“Lá no Gedeões eu falei: eu tenho duas vagas para o Supremo Tribunal Federal, uma será de um evangélico. Se somos laico, eu sou cristão. No Supremo Tribunal Federal, não é por ser evangélico apenas. Vai ter que ter conhecimento jurídico”, disse ele, fazendo a seguinte conclusão:
“Nós precisamos da palavra de Deus em todos os locais possíveis”.
Crítica ao STF
Na celebração evangélica, o presidente também criticou o STF.
Fez isso ao falar sobre o tema família, que, para ele, nos últimos 20 anos, sofreu tentativa de quebra no país.
“Inventaram de tudo para quebrar a célula maior de uma nação, que é a família”.
Em seguida se dirigiu ao Supremo, falando de questões de gênero na infância e do conceito de família aceito pelo STF, a qual chamou de “ajuntamento de coisas qualquer”.
“Tiveram o descaramento de colocar em livros escolares que a criança vai escolher seu sexo quanto tiver 12 anos de idade; que família é ajuntamento de duas coisas qualquer. Inclusive, eu estava em um encontro de Gedeões, em Santa Catarina, e o Supremo estava decidindo uma coisa muito importante, mas, naquele momento, não era competência do Supremo, como não é, legislar. E legislaram, infelizmente”.
Lula deixado de lado; Ciro cutucado
Numa postura pouco comum em suas aparições públicas, em seu primeiro compromisso em Manaus, Bolsonaro deixou de lado o antagonismo com o ex-presidente Lula e mirou artilharia em Ciro Gomes, sem citá-lo diretamente.
Ciro vai estar em Manaus na sexta-feira, dia 28, para encontro com pesquisadores do Inpa, professores e alunos da Ufam e com militantes e correligionários de seu partido, o PDT, com vistas às eleições de 2022, ano que Bolsonaro disputará reeleição.
A ofensiva ao pedetista ocorreu quando ele falou em verdade e mentira na política. Contou que foi orientado por um jornalista mentir e relatou:
“Certa vez, até durante a campanha, um jornalista conhecido falou: se você não mentir, você não vai chegar lá; você tem que mentir para o povo, dizer que vai fazer maravilhas, que vai triplicar o salário mínimo, tirar todo mundo do SPC, vai baixar os impostos. Se você falar a verdade, você não vai chegar lá”.
Aumentar salário mínimo e tirar o nome dos brasileiros do SPC foi uma das propostas de Ciro Gomes nas eleições do ano passado.
Ainda sobre esse tema, Bolsonaro falou que mentir faz parte da política e se incluiu nessa conduta.
“Cheguei (à Presidência) galgado numa passagem bíblica, Joao 8:32 – e conhecerei a verdade e a verdade vos libertará. E no meio político, meus prezados deputados federais, a verdade sempre está longe de nós, de todos nós. De mim também, sem exceção”.
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