Ouvido nesta segunda-feira (7), na condição de delator pelo juiz federal Vallisney Oliveira, da 10 ª Vara Federal de Brasília, o empresário Marcelo Odebrecht ratificou versão anterior sobre o pagamento de propina em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como resultado da liberação de financiamento do BNDES para projetos da empresa em Angola, na África. Lula é réu em dois processos penais abertos na Justiça de Brasília.
O principal, que trata do suposto acerto de US$ 40 milhões de propinas ao PT pela liberação da linha de crédito do BNDES em 2010, tem também como alvo o ex-ministro Paulo Bernardo. O outro processo apura corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de influência envolvendo o ex-presidente e Taiguara Rodrigues dos Santos, conhecido como “sobrinho de Lula”. A investigação deriva da Operação Janus, deflagrada em 2016 como desdobramento da Lava Jato.
“Naquela época, eu tinha uma conta corrente que eu e (Antonio) Palocci (ex-ministro) administrávamos, e que pertencia ao PT, Lula e que, na verdade, era fruto de um combinado de Lula com meu pai (Emílio Odebrecht). Quando havia pedidos de valores para ajudar o PT, saia dessa conta corrente”, disse Marcelo.
Ainda em seu depoimento, o empresário voltou a mencionar a existência de uma “Planilha Italiano”, na qual eram indicadas duas “contrapartidas” (que seriam os negócios onde houve cobrança condicional de propinas). Um deles envolveu justamente a operação da empreiteira em Angola. “Foram, de fato, contrapartidas solicitadas, e que geraram créditos”.
Em quase uma hora e meia de depoimento, Marcelo também acusou o pai e o ex-executivo da Odebrecht Alexandrino Alencar de “contradições” ao falarem à Justiça sobre a participação do ex-presidente e o acerto de valores. “Como a relação de Lula pertencia ao meu pai, eu tinha de referendar esses valores com ele, buscar a autorização dele. Só que agora ele está dizendo em depoimento que nunca conversou com Lula sobre valores”.
Como delator, ele afirmou que não teve participação direta nos supostos acertos com o ex-presidente, mas que tanto o pai como Palocci e outros executivos teriam relatado pedidos feitos por Lula. Afirmou ainda que manteve o teor de sua colaboração premiada – homologada em 2017 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Após depoimento prestado na sexta-feira passada, no processo principal, defesas dos réus chegaram a apontar o que seria um “recuo” do empresário.
Marcelo foi presidente do grupo de 2009 até 2015, quando foi preso pela Lava Jato. Cumpriu dois anos de prisão e hoje está agora em regime domiciliar, monitorado por tornozeleira eletrônica. No depoimento, frisou que a “relação de Lula pertencia” ao pai, Emílio, mas que referendava valores com ele.
“Respondo pela minha colaboração e pelo o que falei. Se pessoas acertaram propinas e disseram que não acertaram, elas que têm de responder. Posso responder pela minha colaboração”.
Sobre Taiguara, o delator voltou a contar que o então diretor da Odebrecht em Angola Ernesto Bayard o comunicou que havia a solicitação de “apoio”. “O que eu soube foi que, por volta de 2011, que houve pedido de Lula, não sei se a meu pai ou a Alexandrino, para que pudéssemos subcontratar o sobrinho dele em Angola”.
Defesa
Ainda na sexta-feira, o advogado de defesa de Lula, Cristiano Zanin Martins, disse que os depoimentos de Marcelo e de Emílio, somados, deixariam claro que “o ex-presidente não praticou nenhum ato ilícito que foi imputado a ele nessa ação”. Procurado novamente nesta segunda pela reportagem, o advogado não havia respondido até a conclusão desta edição.
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