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Time de deficientes visuais do AM disputa campeonato no Pará

Time de futebol da Associação de Deficientes Visuais do Amazonas disputa torneio no Pará, entre os dias 12 e 19 de setembro

09/09/2019 às 08h16 Atualizada em 09/09/2019 às 08h24
Por: Fernanda Souza Fonte: Acrítica
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“O esporte é para todos”: a frase pode soar meio clichê para um leitor que esteja desprevenido, porém, a batalha diária de pessoas com qualquer tipo de deficiência para inserção numa sociedade que prega a “normalidade”, passa bastante por um ambiente propício às práticas esportivas. Em Manaus, a Associação de Deficientes Visuais do Amazonas (ADVAM), promove a inclusão em vários aspectos sociais, combatendo todo tipo de discriminação advinda do estado de cegueira.  O time da instituição está em ritmo de preparo: a equipe composta por 12 atletas disputa a Taça Pará, entre os dias 12 e 19 de Setembro, em Belém (PA).

Agora, imagine só um país como o Brasil, que possui cerca de 1,2 milhões de deficientes visuais, de acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, e poucos projetos de inclusão para tais pessoas, em que momento o esporte entra em suas vidas? Há 20 anos o time de futebol de cinco da ADVAM reúne deficientes visuais, verdadeiros guerreiros que possuem a vontade de praticar paradesportos.

No time de futebol de 5 da ADVAM, a competitividade e, principalmente, a garra dos jogadores, mostram que é possível e até recomendável que deficientes pratiquem esportes, seja para melhorar a autoestima, para socializar com outras pessoas que estejam passando por situações semelhantes, ou mesmo para não permanecer inativo em atividades físicas.

Homem Gol

Um dos craques do time, Nelson Peres, de 31 anos, que nasceu com deficiência visual, é atacante e grande esperança de gols na disputa da Taça Pará. "Para mim é um privilégio muito grande estar inserido na Associação. Era uma coisa que eu pensava que nunca ia conseguir fazer: jogar bola sendo cego. Já tive passagem por uma equipe de Belém (no Pará) e, graças a Deus, nesse ano estou aqui de volta. Estamos com um excelente treinador então, tudo se torna mais fácil”, comentou.

Sobre a responsabilidade de ser o líder técnico do elenco, Nelson afirmou que não se sente pressionado, e que o coletivo é o que realmente faz a diferença nos jogos. “Eu costumo pensar que mesmo o professor falando, não me acho craque. Prefiro que a responsabilidade seja de todos nós, somente assim, a gente vai ter mais êxito. Minha expectativa no próximo campeonato é fazer uma excelente campanha e poder fazer os gols para ajudar nossa equipe e nos consagrarmos campeões” apontou.

‘Xerifão’ experiente 

O 'zagueirão' da equipe é Williames Seixas, de 41 anos, ele está no time da ADVAM há mais de 20 anos, e conta sua motivação para continuar competindo no futebol de cinco. “Não nasci com a deficiência, então gostava muito de jogar bola antes. Quando fiquei cego, para mim, o mundo tinha acabado naquele momento, pensei que não conseguiria mais jogar. Depois descobri a Associação, os deficientes que jogavam bola e desde então comecei a treinar, e participar de campeonatos. O esporte é tudo” declarou o jogador.  

Futebol de 5

Seguindo a paixão nacional por ludopédio, é claro que um dos esportes mais populares entre deficientes brasileiros seria o futebol de cinco. Os primeiros relatos da modalidade no Brasil são da década de 50. Naquela época, deficientes visuais jogavam usando latas, garrafas e até mesmo sacolas plásticas. 

As disputas eram muito comuns nas instituições criadas para apoiar os deficientes visuais. Em 1978, aconteceu a primeira competição desta natureza no Brasil: as Olimpíadas das  Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), realizadas no estado do Rio Grande do Norte, marca o início das disputadas do esporte em território nacional.

Na América do Sul, a Federação Internacional dos Desportos para Cegos (IBSA) admitiu como o primeiro torneio do esporte a Copa América de Assunção, organizada pela própria instituição no ano de 1997. Argentina, Brasil, Colômbia e Paraguai, participaram do torneio no qual a Seleção Brasileira sagrou-se campeã.

“Só cegos jogam, quando tem uma percepção a iluminação e claridade, ele é tolhido dessa capacidade por meio das vendas, para que haja uma igualdade no movimento. Existe é claro a implementação de guizos dentro da bola, que é por onde os cegos irão se guiar. Apenas os goleiros são videntes, eles precisam enxergar, certa vez tentou-se implantar goleiros de baixa visão, mas não dá certo. Temos também o que chamamos de ‘chamador’, o goleiro informa a defesa. Eu que sou técnico informo no meio campo; passou para parte de ataque quem instrui é o chamador, pessoa vidente que fica atrás do gol adversário.” explicou Sérgio Nazareno, 50, técnico da equipe de futebol de cinco da ADVAM, que é formado em educação física, pós-graduado em fisiologia, cinesiologia e treinamentos esportivos.

Torneio Centro-Norte

No comando do time há um ano e meio, Sérgio Nazareno realiza seu segundo campeonato pela ADVAM.  "Participamos do Centro-Norte, torneio que foi em Goiânia. Não fomos felizes no torneio, mas fomos bem quanto à experiência, ao laboratório que foi trazer algumas coisas que outros times não estão fazendo.” comentou sobre o primeiro torneio a frente da equipe.

Sérgio também analisou como o paradesporto é essencial na vida do deficiente. “A integração, a cidadania, o crescimento, motivação. A saída de um ‘casulo’, de um estado à margem da sociedade, eu digo que tudo isso o esporte faz", afirmou. 

O experiente Nazaro destaca que é importante incentivar a prática de esporte. "Mais ainda por ser futebol, uma paixão nacional, uma coisa que a gente não sabe muito explicar o que tanto apaixona uma pessoa a jogar futebol. Tenho atleta aqui que perdeu a visão e ficou com medo de viver, queria tirar a própria vida. Hoje o futebol traz liberdade, a atividade física num todo trouxe uma mudança para todos eles. O estar em meio a mais um convívio social, apoiados pelos próprios colegas, sabendo que são capazes. Existem famílias que escondem seus deficientes, principalmente se for cego, que sempre precisa estar acompanhado, mas na verdade não a bengala será o ‘olho’ dessa pessoa. Se nossas cidades também tivessem a acessibilidade correta, o cego andaria tranquilamente.” disse.

De acordo com o técnico, apenas recentemente uma estrutura apropriada foi oferecida para os treinos da equipe. “Até alguns meses, nem espaço a gente tinha, agora toda segunda-feira à tarde, é certo que poderemos usar a quadra aqui na Vila Olímpica e tendo brechas, nós também possuímos total autorização para uso. Porque aqui em Manaus, nós não temos quadra específica para cego e essa aqui é a melhor quadra, a mais próxima de uma quadra adaptada. A questão da adaptação é que precisa ter um cercado, que chamamos de ‘banda’, tem que ser liso e com uma leve inclinação.” concluiu.

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