Com a repercussão negativa de uma possível indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), ao cargo de embaixador do Brasil em Washington, nos Estados Unidos, a maioria da bancada amazonense no Senado já se declarou contrária à decisão.
No último sábado (17), a Consultoria Legislativa do Senado afirmou que a indicação de Eduardo seria um caso de nepotismo. De acordo com o parecer, assinado pelos técnicos da Casa, o cargo de embaixador é comissionado, o que vedaria a indicação de parentes até o terceiro grau.
Com 35 anos recém-completados, idade mínima para ser embaixador, Eduardo Bolsonaro não possui carreira diplomática. Ele utiliza o fato de ser presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados e ter feito intercâmbio nos EUA como argumentos a seu favor.
Caso seja indicado, ele deverá passar por uma sabatina na Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado. Depois disso, o nome segue para o plenário da Casa, onde será votado.
O senador Eduardo Braga (MDB) avalia que a indicação de Eduardo pode representar uma quebra na tradição diplomática técnica, profissional e qualificada construída nos últimos anos, e que tem posicionado o país como interlocutor com grandes potências do mundo.
“A base dessa tradição brasileira tem nos mostrado resultados importantes no campo diplomático, como exemplo a construção do acordo com a União Europeia. Esse acordo não aconteceu nestes seis meses, ele foi construído ao longo do tempo. Portanto, o Brasil tem que avaliar o lado positivo de qualquer mudança no campo diplomático”, disse.
Plínio Valério, do PSDB, se manifestou de forma contrária desde que o presidente da República declarou a intenção de indicar o filho ao cargo. O senador diz ter convicção de que o deputado federal eleito pelo PSL de São Paulo não tem preparo suficiente para o exercício da função.
“Embora a assessoria jurídica do Senado já tenha dito que é nepotismo, vou pela competência. Quando o julgo despreparado, é porque ele pode estar pronto para mil missões, mas essa não é uma delas, e por isso vou votar não”, disse.
O senador Omar Aziz (PSD) declarou indeciso, de acordo com mapeamento feito pelo Estadão. A reportagem entrou em contato com a assessoria do senador para obter mais informações sobre seu posicionamento, mas não obteve retorno até a publicação da matéria.
Eduardo Bolsonaro, no entanto, parece enfrentar certa resistência dentro do Senado. Além da bancada amazonense, o Estadão procurou os outros 78 senadores da República para que se posicionassem acerca do tema. Ao todo, 29 responderam que devem votar contra o nome do filho do presidente e 15 disseram ser a favor. Outros 37 não quiseram responder ou se declararam indecisos, como Omar Aziz.
Caso seja nomeado para a embaixada em Washington, Eduardo se tornará a primeira pessoa sem carreira na diplomacia a assumir o posto desde o fim do regime militar.
Mín. ° Máx. °