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Hacker diz que obteve contato com a Intercept por meio da Manuela d'Àvila

De acordo com o suspeito, as invasões aos aparelhos foram realizadas de março a maio deste ano, e o material foi enviado ao Intercept no Dia das Mães (12 de maio).

26/07/2019 às 18h33
Por: Jéssyca Seixas Fonte: UOL
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Em depoimento à Polícia Federal, um dos presos na terça (23) sob suspeita de ter hackeado celulares de autoridades, Walter Delgatti Filho, 30, afirmou que obteve o contato do jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, por meio da ex-deputada Manuela d'Ávila (PC do B), e que não editou as mensagens de membros da Lava Jato antes de repassá-las.

O teor do depoimento dele foi revelado nesta sexta (26) pela GloboNews. Um dia antes, a Folha havia revelado que, nesse mesmo depoimento à PF,  Delgatti disse que encaminhou as mensagens a Glenn de forma anônima, voluntária e sem cobrança financeira.

A reportagem busca contato com a ex-deputada Manuela, que ainda não se manifestou sobre o teor do depoimento.

Segundo o depoimento, Delgatti procurou Grennwald por conhecer sua atuação no vazamento de documentos secretos dos EUA, no caso de Edward Snowden. O compartilhamento com o Intercept, segundo o preso, foi voluntário e não envolveu pagamento.

Delgatti relatou que o primeiro hackeamento que fez foi do promotor Marcel Zanin Bombardi, de Araraquara (SP), que o havia denunciado por tráfico de medicamentos de uso controlado.

No celular do promotor, Delgatti encontrou um grupo no aplicativo Telegram formado por procuradores da República, chamado “valoriza MPF [Ministério Público Federal]”. Pela agenda de um dos procuradores desse grupo, o suspeito disse que conseguiu acesso ao celular do deputado Kim Kataguiri (DEM-SP).

Pela agenda de Kataguiri, ainda segundo o suspeito, ele obteve o número do ministro Alexandre deMoraes, do Supremo Tribunal Federal. Entre os contatos de Moraes, Delgatti obteve o do ex-procurador-geral Rodrigo Janot e, pela agenda dele, chegou aos números dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, entre eles Deltan Dallagnol, Orlando Martello Júnior e Januário Paludo.

De acordo com o suspeito, as invasões aos aparelhos foram realizadas de março a maio deste ano, e o material foi enviado ao Intercept no Dia das Mães (12 de maio).

“[Delgatti disse] que pode afirmar que não realizou qualquer edição dos conteúdos das contas de Telegram das quais teve acesso; que acredita não ser possível fazer a edição das mensagens do Telegram em razão do formato utilizado pelo aplicativo”, consta do depoimento.

“Através da agenda do Telegram do procurador Deltan Dallagnol teve conhecimento do número de telefone utilizado pelo ministro Sergio Moro; [...] que não obteve nenhum conteúdo das contas de Telegram do ministro Sergio Moro”, continua o depoimento.

O suspeito contou à polícia que, por meio da agenda de Dallagnol, teve acesso aos números de juízes do TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), como Abel Gomes, e não se lembra de ter invadido celulares de policiais federais que atuam em São Paulo.

Disse também que entrou nas contas de procuradores da operação Greenfield, que atuam em Brasília, mas “não encontrou nada ilícito no conteúdo das conversas”, sugerindo que, devido a essa avaliação, não as copiou.

Delgatti deu detalhes de como chegou a Manuela d'Ávila para conseguir o contato de Greenwald. Ele relatou que conseguiu o celular da ex-deputada na lista de contatos da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), e, “por sua vez, conseguiu o telefone da ex-presidente Dilma através da lista de contato do Telegram do ex-governador Pezão [MDB-RJ]”. 

O suspeito afirmou que não armazenou nenhum conteúdo das contas de Dilma e Pezão, e que não se lembra de como obteve o número do emedebista.

“Na manhã do Dia das Mães de 2019, [Delgatti disse que] ligou diretamente para Manuela afirmando que possuía o acervo de conversas do MPF contendo irregularidades; que ligou para Manuela d'Ávila diretamente da sua conta do Telegram e disse que precisava do contato do jornalista Glenn Greenwald; que a princípio Manuela d'Ávila não estava acreditando no declarante, motivo pelo qual fez o envio para ela de uma gravação de áudio entre os procuradores da República Orlando [Martello Júnior] e Januário Paludo”, diz o depoimento.

“No mesmo domingo do Dia das Mães, cerca de 10 minutos após ter enviado o áudio, recebeu uma mensagem no Telegram do jornalista Glenn Greenwald, que afirmou ter interesse no material, que possuiria interesse público.”

Segundo o suspeito, ele começou a repassar ao jornalista os conteúdos por meio do próprio Telegram, mas, como o material era volumoso, ele optaram por mudar o método de envio.

“Assim, criou uma conta no Dropbox [que permite compartilhamento de arquivos online], enviou o material e repassou a senha para Glenn Greenwald; que em nenhum momento passou seus dados pessoais para Glenn Greenwald; que Glenn Greenwald ou qualquer jornalista de sua equipe conhece o declarante; que nunca recebeu qualquer valor, quantia ou vantagem em troca do material disponibilizado ao jornalista; que o material disponibilizado ao Glenn Greenwald foi obtido exclusivamente pelo acesso a contas do Telegram”, continua o depoimento.

Delgatti afirmou que entrou no Telegram do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), “tendo acesso apenas a sua agenda do aplicativo”, mas que não tem registros desse ataque.

O suspeito negou que tenha acessado as contas do aplicativo da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), do ministro da Economia, Paulo Guedes, ou de outras autoridades do governo.

Conforme o depoimento, Delgatti disse que os outros três suspeitos presos pela PF —Gustavo Henrique Elias Santos, 28, Suelen Oliveira, 25, e Danilo Marques, 33— são seus amigos de infância   e em nenhum momento repassou a eles a técnica usada para invadir os telefones.

Em tese, segundo as leis brasileiras, não cabe nenhuma punição a uma pessoa que se omitiu ao tomar conhecimento de um ato ilícito. Nesse caso, mesmo que soubesse que um hacker tivesse cometido um crime, Manuela não poderia ser penalizada por ter deixado de denunciar o caso às autoridades.

Segundo o entendimento jurídico, também não consiste ilicitude o fato de ela ter intermediado o contato entre Delgatti e Greenwald.

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