Um dos sócios da Gol Linhas Aéreas, Henrique Constantino afirmou em delação premiada ter repassado R$ 7 milhões em propina a pedido do ex-presidente da República Michel Temer e de integrantes da cúpula do MDB. O empresário também cita “benefícios financeiros” pagos ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A delação, homologada no dia 16 de abril pelo juiz da 10.ª Vara Criminal Federal do Distrito Federal, Vallisney de Souza Oliveira, cita o envolvimento de ao menos 12 políticos de cinco partidos diferentes – além de MDB e DEM, PT, PP e PSDB.
Sobre Temer, Constantino disse que o então vice-presidente da República participou de uma reunião em junho de 2012, em Brasília, ao lado de Eduardo Cunha (MDB-RJ) e Henrique Eduardo Alves (MDB-RN), que eram deputados na época.
Segundo o empresário, durante o encontro foi solicitado o pagamento de R$ 10 milhões “em troca de atuação ilícita de membros do grupo em diversos negócios”. O interesse do empresário era a liberação de financiamento de R$ 300 milhões do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS), controlado pela Caixa Econômica Federal, para a ViaRondon, empresa ligada a Constantino.
Do valor pedido pelos emedebistas, o empresário diz que pagou R$ 7,077 milhões, divididos em duas partes. Uma fatia para a campanha do ex-deputado Gabriel Chalita, então integrante do MDB, à Prefeitura de São Paulo, em 2012, e outra para empresas indicadas por Lúcio Funaro para intermediar a propina, como Viscaya e Dallas.
Constantino conta que chegou ao grupo após se aproximar de Funaro, operador de propina do MDB e que também é delator (assista aos vídeos da delação). O empresário afirma ainda que Funaro intermediou propina “de R$200 mil a R$ 250 mil” ao ex-ministro Geddel Vieira Lima para a abertura de uma linha de crédito de R$ 50 milhões da Caixa para a Oeste Sul Empreendimentos Imobiliários, outra empresa de sua família. Geddel era diretor do banco na época.
A colaboração foi firmada em fevereiro com a força-tarefa da Operação Greenfield, da Procuradoria da República do Distrito Federal, que investiga desvios em fundos de pensão, bancos públicos e estatais.
Como parte do acordo, o empresário se comprometeu a devolver R$ 70,8 milhões a título de ressarcimento à Caixa e ao FGTS – equivalente a dez vezes o valor da propina.
Maia. Em um dos dez anexos da delação premiada, Constantino aponta o presidente da Câmara como recebedor de “benefício financeiro” por meio da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear). A entidade foi criada em 2012 para defender os interesses das empresas do setor.
A informação consta de um trecho da decisão do juiz que foi divulgado com tarja pela Justiça Federal, mas ao qual o Estado teve acesso. No documento, porém, não há detalhamento sobre a citação ao presidente da Câmara.
Além de Maia, foram citados como beneficiários o ex-senador e atual presidente do MDB, Romero Jucá (RR), o senador Ciro Nogueira (PP-PI), além dos ex-deputados Vicente Cândido (PT-SP), Marco Maia (PT-RS), Edinho Araújo (MDB-SP), Otávio Leite (PSDB-RJ) e Bruno Araújo (PSDB-PE), entre outros.
Cada um dos dez capítulos do acordo traz relatos de crimes e, segundo assinalou o magistrado, tem “regular índice de elementos probatórios”.
Constantino incluiu como provas para detalhar os crimes e-mails e trocas de mensagens pelo celular. Em algumas delas, enviadas a Funaro, utiliza termos como “reservas”, “bilhetes” e “poltronas” para se referir às propinas.
Também são citados pagamentos ao ex-governador de Minas Gerais Fernando Pimentel (PT) e patrocínio de uma liga de futebol americano no Brasil com “intervenção” do ex-deputado federal Vicente Cândido.
Políticos citados na delação premiada do empresário Henrique Constantino negam ter recebido valores ou benefícios do sócio da Gol Linhas Aéreas. A reportagem não conseguiu contato com os outros citados. O espaço está aberto para manifestação.
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