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'Divisão das Forças Armadas da Venezuela é completa', diz Guaidó

Líder opositor não nega que ministro da Defesa de Maduro esteja envolvido em negociações e afirma que militares têm medo

03/05/2019 às 15h19
Por: Jéssyca Seixas Fonte: O Globo
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Numa salinha de uma das sedes centrais do partido Vontade Popular (VP), acompanhado por pouquíssimos assessores e com a mesma tranquilidade que demonstra desde que foi proclamado pela Assembleia Nacional  (AN) “presidente encarregado” da Venezuela , Juan Guaidó afirmou continuar em permanente comunicação com militares de seu país e não negou que esses contatos incluam o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López.

Em entrevista exclusiva ao GLOBO, o presidente da AN disse entender as críticas que recebeu da parte de altas autoridades do governo Jair Bolsonaro (PSL) e assegurou que “faltou informação” sobre o que estava e está acontecendo na Venezuela. Guaidó afirmou saber que o vice-presidente Hamilton Mourão e outros generais brasileiros têm um canal de comunicação com militares venezuelanos e considerou que esse canal “é positivo e contribui com a causa venezuelana”. Para Guaidó a chamada Operação Liberdade “continua em marcha” e a Venezuela vive “um dilema entre a vida e a morte, e Maduro é a morte”.

Altas autoridades do governo brasileiro questionaram as ações de terça-feira passada, usando termos como “precariedade” e “frustração”. O que o senhor responde a essas declarações?

Primeiro quero agradecer a postura do Brasil de apoio à democracia venezuelana e à nossa causa pela liberdade. Agradeço o presidente Bolsonaro, o vice Mourão e não tenho o prazer de conhecer o general Heleno. Eles sabem muito bem qual é a situação venezuelana, sabem que aqui existe uma ditadura. O general Mourão fez cursos militares aqui, na Venezuela, ainda tem relação importante com alguns (militares). Entendo o ponto de vista deles, e nos próximos dias teremos alguma comunicação para explicar melhor a situação, em termos gerais. Ainda falta caminho a ser percorrido e a ação da última terça-feira não foi militar. Foi uma ação de descontentamento social generalizado, e estamos numa transição à democracia. O descontentamento entre os militares é evidente e é evidente também que a cadeia de comando está quebrada.

Houve desconhecimento da parte do Brasil ao afirmar que foi uma ação militar que não deu certo?

Mais do que desconhecimento acho que falta um pouco de informação. Nós não podemos dar toda a informação porque estamos numa ditadura, muitas coisas estão acontecendo neste momento e continuamos construindo a Operação Liberdade. Não queremos um confronto dentro das Forças Armadas, pelo contrário, queremos que os militares se unam a esta operação democrática. Estamos pedindo aos militares que acatem o que diz a Constituição e vamos insistir nesse caminho.

Qual foi sua sensação, depois da tensão da última terça-feira, ao ver que estas altas autoridades brasileiras disseram sentir-se frustradas?

Você diz o vice-presidente Mourão. Porque eu falei com o presidente Bolsonaro na mesma terça-feira, foi uma conversa cordial e ele estava totalmente comprometido com a causa democrática venezuelana. Este é um momento de definições e todos devemos atuar. A migração está se triplicando, temos o contrabando de ouro, a presença de grupos terroristas. Nós estamos pagando o custo mais alto, mas este problema afeta toda a região.

O senhor vai telefonar para o presidente Bolsonaro nos próximos dias?

Já nos comunicamos e provavelmente vamos voltar a nos comunicar. O importante é que o Brasil continue respaldando a causa venezuelana, apesar de opiniões que possam existir sobre uma ou outra coisa.

Não lhe incomoda que tenham afirmado sentir-se frustrados?

Não, com a informação que tinham naquele momento, entendo. Vamos ampliar as informações. Mas tenho certeza de que continuam respaldando nossa causa.

O general Mourão foi adido militar na Venezuela, e o governo brasileiro confirmou que existe um canal de comunicação entre militares dos dois países...

Sim, eu sei que existe, acho produtivo e acho que contribui com a nossa causa.

Qual é a situação real nas Forças Armadas venezuelanas? Até onde chegou a fratura?

Vou te responder com um exemplo muito claro: o diretor do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin, que aderiu à operação, foi afastado do cargo e agora seu paradeiro é desconhecido). A fratura chegou até o Sebin, cujas autoridades são nomeadas por Maduro. Se a fratura chegou até lá, chegou a comandantes, sargentos, militares na fronteira, até onde chega a fratura? Acho que não é mais uma fratura, é uma divisão completa. Os militares não querem mais Maduro, mas existe uma evidente perseguição, existe medo.

Mas se existe essa divisão, porque não ocorre uma mudança política no país?

Porque temos uma ditadura, porque existe perseguição.

Mas as ditaduras em algum momento são derrubadas...

Claro, mas, de novo, existe perseguição, existe medo, existe uma inteligência cubana, torturas, assassinatos políticos, pessoas desaparecidas e militares de outros países em nossos territórios, entre outras coisas. São muitos fatores e todos os elementos que já temos ainda foram insuficientes.

As garantias oferecidas aos militares não foram suficientes?

Nós não estamos oferecendo uma contraprestação aos militares. O que dizemos é que vamos respeitar a lei. O mais importante é o papel que os militares terão na transição, talvez tenhamos que comunicar melhor isso. Não estamos oferecendo coisas aos militares, estamos apelando à sua consciência. Durante anos foi difícil uma comunicação com as Forças Armadas, mas hoje nos comunicamos.

É uma comunicação permanente?

Claro que sim, mas não é simples. Existe muito medo entre os militares e entre todos os venezuelanos. E esse medo é compreensível.

É verdade que estas comunicações, nos últimos tempos, envolveram até mesmo o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López?

Estamos em ditadura, certas coisas prefiro não comentar justamente para poder continuar fazendo essas coisas. Dar precisões neste momento não seria produtivo para a nossa causa.

Mas o senhor não nega contatos com Padrino López?

(Guaidó olha, sorri e fica em silêncio.)

O governo americano confirmou estes contatos e fala abertamente sobre a negociação com setores militares e civis do chavismo. Essa exposição não prejudica a causa opositora?

Sinceramente… os Estados Unidos são um aliado importante, como o Brasil, Europa. Hoje a Venezuela tem um dilema existencial entre vida e morte, e a morte é Maduro. A vida sempre ganha. Temos de falar com todos para terminar com a usurpação. Não será simples, mas temos alternativas. Quem não tem alternativas é Maduro, porque está isolado, não tem financiamento e se sente rodeado de traidores.

Vão voltar às ruas?

Claro que sim. Estamos há anos nas ruas e vamos continuar.

O senhor é muito pressionado para ativar o artigo 187 da Constituição, que autoriza a presença de militares estrangeiros na Venezuela…

Meu papel é levar este país a uma transição democrática com o menor custo social. Está na agenda, claro, como sempre esteve. Intervenção militar já temos dos russos e dos cubanos. O que poderemos eventualmente solicitar é a cooperação internacional militar. Mas para que isso aconteça precisamos ter países que queiram cooperar.

Os Estados Unidos disseram que vão cooperar quando for requerido…

Exato, quando chegar o momento. Não quando seja pedida. É a opção mais dura de todas e a que ninguém gostaria de adotar. Mas deve ser avaliada como todas, como uma marcha a Miraflores.

Maduro está enfraquecido, mas o chavismo é muito mais que Maduro. Como o senhor vê o chavismo?

O chavismo é uma realidade e deve decidir de que lado quer estar.

A transição poderia incluir o chavismo?

Claro, poderia incluir todos os fatores políticos. Eles representam menos de 10% do país e eles deverão decidir, estão cada vez mais sozinhos. 

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