Após mais de 20 horas de completo apagão, o serviço de eletricidade foi restaurado em algumas áreas de Caracas por volta das 13h desta sexta-feira. Nas redes sociais, moradores começaram a reportar que a luz havia sido restabelecida em municípios como Libertador, El Hatillo e Sucre. Os usuários também relataram via Twitter que em várias áreas de La Guaira o fornecimento de eletricidade havia sido parcialmente restaurado.
O Aeroporto Internacional Simón Bolívar, em Maiquetía, ficou às escuras nesta sexta-feira e grande parte dos voos foram suspensos, deixando dezenas de passageiros presos no principal terminal aéreo do país.
O governo também fechou escolas e dispensou trabalhadores. O metrô e o sistema ferroviário não funcionaram durante a manhã em Caracas. Grande parte dos postos de gasolina do país ficaram fechados. Em Caracas, apenas um local, no bairro de Las Mercedes, vendia combustível, o que causou longas filas. Nas redes sociais, usuários relataram problemas para cozinhar, se locomover para chegar ao trabalho ou usar o celular — grande parte do sistema de telefonia ficou fora do ar.
Os hospitais também foram afetados pelo blecaute. José Manuel Olivares, médico e deputado pelo estado de Vargas, fez um balanço dos centros de saúde sem energia ao jornal "El Nacional". Segundo ele, alguns locais, como o hospital La Victoria, a maternidade El Valle e o Hospital General del Sur, em Maracaibo, ficaram totalmente sem energia. Outros, como a maternidad del Sur, em Carabobo, e o Hospital Universitário de Caracas estavam funcionando apenas para emergências e unidades de tratamento intensivo.
A capital venezuelana e quase todo o país ficaram às escuras na tarde de quinta-feira e o o governo rapidamente atribuiu o blecaute a uma sabotagem ou a um ataque sofisticado à usina hidrelétrica de Guri, a maior do país. Outras fontes de eletricidade não conseguiram compensar a falta de energia, incluindo unidades termelétricas no centro e no oeste do país. Com as luzes desligadas por 16 horas, a comunicação também se tornou um problema, com muitos celulares ficando sem carga na bateria.
A usina de Guri fornece eletricidade para o estado brasileiro de Roraima, que foi afetado pelo corte de energia e teve que ativar suas cinco termelétricas para não ficar sem luz. Em nota, a Roraima Energia, empresa responsável pela distribuição no estado, disse que o seu abastecimento era totalmente mantido por usinas termelétricas na manhã desta sexta-feira.
O ministro das Comunicações, Jorge Rodríguez, insinuou que os EUA poderiam estar envolvidos no incidente, um comentário repetido pelo presidente Nicolás Maduro. O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e o senador republicano Marco Rubio, da Flórida, zombaram das acusações e disseram que a culpa recai sobre a ineficiência do regime socialista e a falta de manutenção da rede elétrica.
Para Miguel Lara, engenheiro elétrico venezuelano que hoje vive em São Paulo, o apagão evidencia que a deterioração da infraestrutura de energia no país é ainda pior do que se imaginava.
— Praticamente, nada está funcionando mais, nem mesmo as usinas termelétricas de backup — disse à Bloomberg. — Nós não temos as peças de reposição, nem pessoal qualificado. Tiraram profissionais para colocar apoiadores políticos, suspenderam planos de manutenção, fizeram compras desnecessárias e desperdiçaram recursos.
José Aguilar, outro especialista no sistema eléctrico do país, afirmou que o apagão é sem precedentes no mundo.
— Trabalhei em sistemas elétricos em 44 países, onde apagões acontecem, claro, mas não um blecaute quase total em um país inteiro e por tantas horas. Isso apenas evidencia a deterioração profunda do sistema elétrico venezuelano.
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