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Morre Bibi Ferreira, diva do musical brasileiro, aos 96 anos

Em quase 80 anos de carreira, atriz encarnou personagens inesquecíveis, em espetáculos como 'Gota d'água' e 'Piaf'

13/02/2019 às 14h42 Atualizada em 13/02/2019 às 14h57
Por: Jéssyca Seixas Fonte: O Globo
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Divulgação
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Morreu nesta quarta-feira, 13, a atriz e cantora Bibi Ferreira, aos 96 anos, em sua casa, no Rio de Janeiro. A artista havia anunciado a aposentadoria dos palcos no ano passado, quando encerrou a turnê Por Toda a Minha Vida. 

Produtor e amigo de Bibi Ferreira, Nilson Raman relatou a morte da atriz no início da tarde desta quarta-feira com tranquilidade e admiração pela sua história. “Feliz daquele que trabalha até os 95 anos e encerra a vida em casa, entre os familiares. Foi coisa de segundos”, afirmou. Segundo ele, Bibi se preparava para almoçar, por volta das 13h, quando sentiu falta de ar e decidiu se deitar. Em seguida, morreu. A enfermeira que acompanhava a atriz chamou a família e o óbito foi atestado por um médico chamado pela filha, Teresa Cristina.

Bibi Ferreira, considerada uma diva do teatro musical brasileiro, morreu aos 96 anos, em seu apartamento no bairro do Flamengo, na zona sul do Rio de Janeiro. O velório acontecerá no Teatro Municipal, no centro da cidade, e o seu corpo será cremado. Os horários ainda não estão definidos.

Em 2018, Bibi chegou a ser internada com um quadro de desidratação. 

O ator e diretor Miguel Falabella foi um dos primeiros a confirmar a notícia por meio de suas redes sociais. "Foi-se a imensa Bibi Ferreira. Devo a ela meu primeiro encantamento com o palco assistindo sua perfomance em Alô Dolly quando era um menino de oito anos", escreveu no Instagram. "Obrigado por tudo, mas principalmente obrigado por honrar o palco sempre."

Além de Miguel, outros amigos e personalidades já se manifestaram sobre a morte da atriz.

Bibi Ferreira estreou no teatro com 24 dias de vida

Pelos dados oficiais, Bibi Ferreira tinha 77 anos de carreira. Mas a atriz e diretora, que morreu aos 96 anos de idade, estava no teatro havia muito mais tempo. Sua estreia ocorreu ainda aos 24 dias de vida – quando foi levada à cena para substituir uma boneca que havia sumido – e ela, desde então, esteve sob os holofotes. Dizia adorar as luzes. E, fosse cantando, fosse representando, havia sempre um próximo espetáculo nos planos de Bibi.

A carreira praticamente centenária, não lhe tirou, contudo, o nervosismo de iniciante. “Sabe que eu ainda sinto uma angústia naqueles instantes antes de entrar em cena? Aquele lugar, depois que você sai do camarim, e ainda não está no palco. Aquele cantinho... É ali que eu sinto um terror”, ela relatou em entrevista ao Estado, quando completou 90 anos.

Falar com Bibi era estar diante do teatro brasileiro e de suas pequenas grandes revoluções. Filha de Procópio Ferreira (1898-1979), ela carregava do pai o amor pela cena e o pendor para o sucesso – a família vivia da bilheteria de seus espetáculos e não podia se dar ao luxo de um fracasso. Mas, curiosamente, foi Bibi uma das primeiras a suplantar o modelo de atuação que Procópio representava. Considerado o maior artista de seu tempo, ele reinava soberano quando as cortinas se abriam. Em cena, fazia o que bem queria, ajustava os textos ao seu talento, relegava todos os outros ao lugar de coadjuvantes. Tratava-se de um tempo em que o diretor não passava de mero ensaiador e todo o público estava interessado, unicamente, em ver o primeiro ator brilhar.

Bibi era filha da tradição (do teatro de comédia e do teatro de revista, onde trabalhara sua mãe), porém representante da modernidade. Nos anos 1940, tudo começava a mudar. O Teatro Brasileiro de Comédia chegava com novas ideias: o ator precisava decorar os seus diálogos, haveria um encenador que decidiria a concepção das montagens, sofisticava-se o repertório. A jovem Bibi se alinhava a essa corrente. À sua presença arrebatadora, acrescia uma técnica rara para os padrões da época. Ainda menina, integrou o Corpo de Baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e, em 1946, foi estudar na Royal Academy of Dramatic Arts de Londres. Ao voltar, surpreendeu a crítica com sua primeira direção em Divórcio (1947) e fez ainda mais sucesso com a encenação de A Herdeira, de Henry James (1952).

Na sala do apartamento onde morava, no Rio, a atriz guardava um retrato emoldurado do pai. Mas não creditava apenas a ele as lições aprendidas. Era descendente de cantores líricos: “Meus bisavós se conheceram no coro do Teatro Solis, de Montevidéu”, contava. “E minha avó, filha deles, já acordava cantando árias de ópera. Cantava o dia inteiro”. Bibi também cantava o tempo todo. E cantava sem perceber. Parecia que cada lembrança de sua vida era acompanhada por uma canção, que ela desfiava a melodia como se fosse parte da história a ser contada.

Foi no teatro musicado, aliás, que Bibi deixou sua maior contribuição. Será lembrada por suas grandes atuações no gênero, como em My Fair Lady, (1964) e em O Homem de La Mancha (1972) – ambos com Paulo Autran. Outra parceria profícua na carreira ela estabeleceu com seu quarto e último marido, Paulo Pontes. Dele, dirigiu o musicalBrasileiro: Profissão Esperança, obra de imenso sucesso, e protagonizou Gota D’água (1975). A peça escrita por Pontes e Chico Buarque deu à atriz a oportunidade de viver uma personagem de coloração trágica. Talvez Joana tenha sido sua mais memorável interpretação – ninguém nunca superou sua versão para aquelas canções e ela ainda sabia, 40 anos depois, seus diálogos de cor.

Bibi dizia que o segredo da saúde era a vida regrada. Não fumava, não bebia. “Não que eu seja contra”, ela justificava. Mas seus vícios eram outros: Um par de sapatos sempre muito altos – para compensar a baixa estatura –, batom sempre vermelho, um copo de Coca-Cola, que ela ia tomando devagarinho enquanto conversava, e o trabalho. A grande atriz não pensava em parar. Ela ainda precisava voltar a viver Piaf, tornar a cantar Frank Sinatra, viajar pelo mundo. Estar sempre e mais uma vez no palco.

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