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Com paciente na maca, cirurgião grava vídeo e relata falta de material para sutura em hospital de Manaus

Médico diz que foi informado pelo hospital sobre falta de insumo durante procedimento médico

07/02/2019 às 09h45
Por: Jéssyca Seixas Fonte: G1/AM
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Reprodução
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Em meio a um procedimento cirúrgico, um cirurgião vascular de Manaus gravou um vídeo para relatar a falta de material médico para a realização de uma sutura arterial. O caso aconteceu no Hospital e Pronto Socorro Platão Araújo, em Manaus. Segundo o médico, o paciente poderia ter o um amputado caso o procedimento cirúrgico com material adequado não fosse realizado. Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde (Susam) informou que a solicitação do médico não "faz parte do padrão da unidade".

O médico gravou um vídeo no momento em que atuava no Hospital e Pronto Socorro Platão Araújo na quarta-feira (6) para relatar a falta de um fio do tipo Polipropileno nº 6-0. A gravação foi feita durante o atendimento de um paciente que, segundo o médico, poderia ter o membro amputado caso o procedimento cirúrgico com material adequado não fosse realizado. Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde (Susam) informou que a solicitação do médico não "faz parte do padrão da unidade".

Nas imagens, o doutor Luis Cláudio de Lima Cruz aparece ao lado de um paciente, que está em uma maca. O cirurgião deveria realizar a reconstrução de uma artéria devido a uma oclusão arterial aguda - uma espécie de entupimento da artéria. Ele para o procedimento ao ser avisado sobre a falta de material específico para finalizar o procedimento e, então, faz apelo em vídeo.  

"Estou trabalhando, enquando meus salários estão atrasados. Eu não estou reclamando. Mas eu não tenho mais como operar nessas condições", diz no vídeo, que viralizou em aplicativos de mensagens.

"Estou com uma artéria aberta e preciso de um Prolene 6.0, que é o fio adequado, para fechar essa artéria. Fui comunicado, agora, no plantão de urgência, que não há"

A sutura em específico, requisitada pelo médico, é indicada para uso de ligação em tecidos moles, em especial para procedimentos cardiovasculares, oftálmicos e neurológicos.

Luis Cruz atua como cirurgião vascular há dez anos em diferentes hospitais de Manaus. Durante conversa com o G1, na noite desta quarta-feira, no Hospital 28 de Agosto, ele afirmou que a falta de material impede diferentes tipos de procedimentos médicos.

"Estou cansado de trabalhar sem material adequado, de amputar membros por falta de angioplastia [procedimento de reparo de vaso deformado]. Eu faço visita a 44 pacientes e todos estão aguardando arteriografia [exame diagnóstico que analisa condições das paredes arteriais] por uma cirurgia. Chega um pé diabético infectado aqui e não tem sala. Aí, quando tem sala, amputa o membro. Veja o centro cirúrgico do 28 (de Agosto). É desumano. As salas são inadequadas. Não suporta tudo isso de especialidade médica que tem aí", disse.

Secretário de saúde se manifesta

Secretário da Susam e vice-governador, Carlos Almeida Filho se pronunciou, por meio de vídeo, sobre a situação. Ele avalia o quadro geral da saúde no Amazonas como uma situação "crítica e crônica" e diz que problema "histórico" será resolvido.

"Nós detectamos isso [os problemas na Saúde] tão logo quando entramos no governo. Você, profissional da saúde, sabe desse quadro, e o usuário mais ainda. O abastecimento no estado se encontra nessa situação tanto crítica quanto crônica. Vamos mudar esse quadro resolvendo um problema que é histórico. Todos são parte da solução, e agradecemos a todas as críticas que nos ajudam a resolver o problema urgente. Contamos com a ajuda de todos e vamos juntos mudar esse quadro".

Susam esclarece caso

Procurada pela reportagem, a Susam informou em nota que o fio requisitado pelo médico, do tipo Polipropileno nº 6-0, "nunca fez parte do padrão" de materiais necessários no Hospital Platão Araújo. A Secretaria afirmou ainda que a equipe de cirurgia vascular do hospital não respondeu ao formulário encaminhado à unidade para indicar os materiais padrões usados no local.

A resposta foi contestada pelo médico que diz, ainda, que a Susam nunca se reuniu com as equipes do hospital.

"Eu sempre operei com fio 6-0. Quando havia falta, de vez em quando, a gente levava do próprio bolso. A Susam nunca chamou as especialidades médicas. Nós fomos recebidos no corredor na primeira reunião", comentou.

Cruz afirma que já comunicou as diretorias dos hospitais em que atua sobre a falta de insumos, mas que a situação continua.

"Geralmente a gente comunica aos diretores dos hospitais e pedimos para que o chefe de centro cirúrgico coloque em ata a falta de material. Mas, geralmente, isso não surte efeito. Essas coisas são engavetadas. Então não são resolvidas", contou.

Ainda segundo a Susam, no mês de janeiro, a direção do Platão Araújo solicitou a compra do fio junto à Central de Medicamentos do Amazonas (Cema), sem o registro de ata. Por conta isso, o processo de compra será feito com dispensa de licitação.

O cirurgião vascular, que trabalha há cinco meses sem remuneração, afirma que os problemas enfrentados precisam de uma solução prática.

"Nós estamos cansados. Não é só pelos cinco meses de salários atrasados. Eu não estou discutindo salário aqui. Eu estou discutindo qualidade de trabalho. Nós temos que ser práticos. Nós queremos apenas resolver o problema da qualidade de saúde no estado do Amazonas", finalizou.

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