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Assédio nas academias: um crime que acontece diariamente em Manaus

O jornal retrata histórias de alunos que foram assediados durante treinos em academias na capital e um submundo sem punição

28/01/2019 às 10h06 Atualizada em 28/01/2019 às 17h21
Por: Jéssyca Seixas Fonte: Em Tempo
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Marcio Melo
Marcio Melo

 Seja homem, mulher, homossexual, transexual ou simpatizantes, o assédio ou importunação sexual em academias de malhação da cidade é cada vez mais comum do que se pensa. Esse é um famoso crime silencioso que acontece diariamente, sem fiscalização ou punição dos infratores pela lei vigente.

O jornal buscou um quantitativo com a Polícia Civil do Amazonas (PCAM) e com o Conselho Regional de Educação Física da 8ª Região (CREF8-AM/AC/RO/RR), mas ambos não possuem registros de casos dessa natureza em seus respectivos bancos de dados.

No entanto, em uma breve volta por estabelecimentos da cidade, foi possível constatar que várias pessoas já foram vítimas de uma olhada maldosa, uma pegada indesejada em alguma parte do corpo, uma cantada de professor/proprietário ou até mesmo de alunos desses locais.

“Malho há bastante tempo na cidade. Já mudei diversas vezes de academia e sempre tenho esse problema das pessoas (alunos e professores) mexerem, ou até mesmo fazerem algo comigo quando estou praticando algum exercício. São situações constrangedoras, mas já me acostumei”, afirma uma autônoma de 25 anos que revela nunca ter registrado o crime em delegacia ou nos órgãos responsáveis.

Em outro caso, um jovem de 29 anos que é homossexual e pediu para não divulgar o nome por medo de represálias contou com exclusividade ao Em Tempo que já foi assediado por um personal trainer da academia na qual ele prática exercícios físicos, na Zona Centro-Sul de Manaus.

“O professor era novato na academia e sempre me olhava de um jeito estranho. Sou homossexual, mas não estou ali malhando para conseguir uma transa. Vou para a academia por conta da minha saúde. Se eu quiser sexo, procuro na balada ou em aplicativos gays”, explicou o jovem, que também não fez registro de ocorrência para não ter problemas com ninguém.

Conforme Honácio Dantes Ferreira da Costa, professor de educação física e proprietário de uma academia de musculação, atualmente as academias da cidade servem como ponto de encontro entre alunos e professores.

“Cansei de ver essas situações, principalmente aquelas pessoas que estão com o intuito de não ter o corpo legal, mas sim de paquerar. Você conhece esse tipo de pessoa, porque eles não largam o telefone, batem muita foto. Essas pessoas vêm para assediar. Uma verdade bem real é a seguinte: quem realmente chega a ter um ato sexual com alguém numa academia, se for as meninas da modinha, é o dono ou o personal, depois vêm os alunos. Os erros estão lá em cima. Já pessoas que vão malhar sério, eu garanto que não dão confiança para isso. E os alunos que tentam, eles sempre vão perder para esses caras, que têm o poder nas mãos”, disse Costa.

Ainda de acordo com o dono de academia, quando o profissional de educação física não tem uma ética, a academia fica mal falada no meio profissional. “Aí vem o marido perguntar sobre certas situações, e isso se espalha muito rapidamente. Quando elas param para conversar, acabam tendo esse assédio em comum, e isso gera polêmica dentro da academia da cidade. É vergonhoso para a academia e para ele (proprietário)”, frisou o educador.

Mais exemplos de assédio

“Algumas academias em que eu já trabalhei aconteceram algumas situações. Numa delas, a aluna disse que estava na sala de avaliação e aí falou que deu o número para um instrutor e que esse profissional pediu para ela entrar num carro e tentou agarrar ela à força. A aluna disse ter pensado que o professor iria levá-la numa outra academia ou algo assim.

Não precisa tocar no corpo

"Outro exemplo é do profissional que toca muito nos alunos. Não se toca no corpo do aluno, e a gente cansa de ver isso. Eu não vejo isso como treino, e sim como assédio ou importunação sexual. Imagine um profissional tocando nas pernas e nas partes de sua esposa ou namorada. Acredito que falte mais orientação para que as denúncias sejam feitas e esses profissionais parem com isso. A pessoa realmente se ilude com as promessas de boa forma e acaba se deixando levar. E isso acontece muito, infelizmente. Ainda têm as alunas que gostam disso, e isso dificulta a identificação desses casos de assédio. Muita gente já chega na academia com esse intuito de caçar. Eles querem uma academia por modinha”, completa Honácio Costa.

Polícia

Por meio da assessoria de imprensa da Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), a delegada Débora Mafra, titular da Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher (DECCM), explicou que só é configurado crime de assédio sexual quando envolve patrão e funcionário.

Quando não tem essa relação, o crime é configurado como importunação sexual. Segundo Mafra, não é comum esse tipo de registro na Delegacia da Mulher, já que as mulheres que procuram a unidade policial são vítimas de agressão praticadas no âmbito da violência doméstica, ou seja, quando o autor tem uma relação familiar ou afetiva com a vítima.

A delegada disse, ainda, que o crime de importunação sexual pode ser registrado em qualquer Distrito Integrado de Polícia (DIP) da cidade.

Conselho de Educação Física

O presidente do CREF8-AM/AC/RO/RR Jean Carlo Azevedo, por meio da assessoria de imprensa da entidade informou que o conselho nunca recebeu denúncias de assédio ou importunação sexual, através de seus canais oficiais. Porém, caso ocorra, ela deve ser encaminhada através do nosso site (www.cref8.org.br).

“Após isso, poderá ser instaurado processo ético e o profissional ser advertido ou apenado com o cancelamento do registro profissional. Vale ressaltar que o Código de Ética dos Profissionais de Educação Física veda o profissional de aproveitar-se das situações decorrentes do relacionamento com seus beneficiários para obter, indevidamente, vantagem de natureza física, emocional, financeira ou qualquer outra”, afirma Azevedo.

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