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Moradores abandonam casas com medo da criminalidade no Viver Melhor

Sem policiamento, muitos são intimidados e expulsos por traficantes, enquanto outros dizem conviver com o medo em tempo integral

06/12/2018 às 11h41
Por: Jéssyca Seixas Fonte: A Crítica
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Yasmin Feitosa/freelancer
Yasmin Feitosa/freelancer

Qualquer um que more em uma das etapas do conjunto habitacional Viver Melhor, situado no bairro Santa Etelvina, na Zona Norte de Manaus, convive com a insegurança e o medo diariamente. A falta de policiamento efetivo contribui com a intensa movimentação do tráfico de drogas e aumento do número de casos de violência no residencial.

Desesperados, os moradores clamam ao poder público pela imediata instalação de uma unidade policial no local e rondas ostensivas. O descaso com o conjunto afeta diretamente a vida das famílias de várias formas (os problemas de infraestrutura e serviços já são velhos conhecidos). Mas, em função da insegurança, muitas delas têm deixado seus imóveis e preferem pagar aluguel em outras localidades da cidade do que conviver com a sensação de que o pior possa acontecer a qualquer momento. 

É o que conta um aposentado de 45 anos, que preferiu não se identificar com medo de represálias. Ele mora na primeira etapa do Viver Melhor desde sua inauguração, em 2012. “Já é um problema antigo, todos sabem disso. Eu e minha família moramos aqui desde que recebemos o apartamento. Agora está insuportável conviver com essa falta de segurança, uma sensação de que algo vai acontecer e ninguém toma nenhuma providência”, denuncia.

O morador relata que um contêiner que servia como posto policial da 26ª Companhia Interativa Comunitária (Cicom) foi instalado nas proximidades do 6º Colégio Militar da Polícia Militar (6º CMPM), localizado na avenida Felicidade, mas logo foi retirado: não ficou lá nem um ano. Um ônibus da Polícia Militar substituiu o contêiner, entretanto ele foi removido do local no fim do mês passado. 

“A gente liga para a Cicom da área e eles não vêm. Quando acontece algo e nós precisamos contar com o apoio deles, sempre alegam que não têm gasolina e às vezes falam até que não têm viaturas para atender a ocorrência. Não fazem ronda aqui. Depois do período eleitoral tiraram até o ônibus que antes dava esse apoio. É trafico de drogas e perturbação de sossego, a gente não pode nem abrir a porta de casa que os marginais ameaçam”, descreve. “Já teve morador expulso da própria casa e ficou por isso mesmo” acrescenta o aposentado.

Morador da terceira etapa, um vendedor de 22 anos afirma que enquanto alguns alugam os próprios imóveis, outras pessoas simplesmente estão abandonando apartamentos por não suportar mais conviver com a situação. Ele, que mora com a mãe e o padrasto, teme invasões e o aumento do número de roubos, pois a ocupação Paraíso Verde, situada nas proximidades do conjunto, está se expandindo e atraindo ainda mais criminosos para a região.

Zona de 'desova'

Casos recentes de violência ajudam a entender o que vem acontecendo no residencial, apesar de não haver estatísticas específicas sobre a criminalidade no conjunto. A prisão de Ateildo Costa Ribeiro, conhecido como “Bola”, no dia 2 de março deste ano, evidência a situação. Conforme a Polícia Civil, o homem expulsava moradores e entregava os apartamentos a traficantes da área.

“Teve gente que foi ‘intimidada’ pelos traficantes aqui da área e abandonou o apartamento. Tem quase 30 imóveis desocupados. Principalmente na parte em que moro, que fica próxima a uma área de mata, onde já foram encontrados vários corpos. Fora que eles invadem os apartamentos para roubar”, relata um jovem morador do conjunto, que não quis se identificar.

Um matagal atrás da terceira etapa, próximo a uma quadra esportiva, serve de local de “desova” de cadáveres. Em 17 de julho deste ano, por exemplo, o corpo de Rafael Bezerra Nunes, 19, foi encontrado em avançado estado de decomposição no local. 

Em dezembro do ano passado, moradores localizaram o corpo decapitado de Rodrigo dos Santos Aranha, 21, em outro trecho do conjunto, na segunda etapa.

Outra vítima da violência na área, um homem foi espancado e morto a tiros no dia 21 de dezembro de 2017 após ter denunciado traficantes à polícia.  Ele foi arrastado para a área de mata da segunda etapa e só foi encontrado no dia seguinte, despido e amarrado. 

Um mês antes, outro corpo foi abandonado na primeira etapa do conjunto. A vítima, um homem, possuía marcas de perfurações por arma branca e não foi identificada. 

Uma mulher de 30 anos, identificada apenas como “Antônia”, se diz tolhida de seu direito de ir e vir. Moradora da segunda etapa, ela vive com um filho adolescente e o companheiro. “Tenho medo de voltar do trabalho à noite. A gente está exposto em tempo integral. Vou pedir ajuda para quem se algo acontecer? Temo pela vida do meu filho. Não é justo termos lutado tanto para conseguir nossa casa e ficar de mão atadas vendo tudo isso acontecer”, reclama.

Insegurança é 'só' um dos problemas

Em suas etapas, o conjunto tem  7.806 apartamentos e 1.087 casas. As casas e apartamentos que fazem parte do complexo são financiadas por meio do programa federal “Minha Casa, Minha Vida”. Seis anos após ser entregue, problemas de infraestrutura e ausencia de serviços básicos são motivos de reclamações constantes da população.

Em março do ano passado, por exemplo, um laudo elaborado pela Defensoria Pública do Estado (DPE-AM) apontou que as edificações estavam em péssimas condições estruturais. O órgão pediu indenização de R$ 133 milhões para os moradores.

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