Paolo Guerrero gira em volta de si mesmo por alguns segundos. Puxa a própria camisa, leva as mãos ao rosto, olha para o céu. Ergue as mãos, como se fizesse um pedido. Depois de meses de luta para conseguir disputar o Mundial da Rússia, esta é a imagem mais marcante do capitão e artilheiro peruano em seu primeiro jogo como titular na Copa do Mundo. Uma reação genuína e desoladora após o gol sofrido por sua equipe diante da França.
Gol este que elimina o Peru na primeira fase em seu retorno ao Mundial após 36 anos de espera. O empate da Dinamarca no jogo anterior sacramenta o destino dos comandados de Ricardo Gareca.
Na estreia, Paolo Guerrero foi banco. Apesar do suspense da véspera, o técnico confirmou a expectativa de que Farfán sairia do time para a entrada do camisa 9. Era o jogo mais importante do futebol peruano em muito tempo.
Novamente o estádio estava repleto de peruanos. E, com eles, Guerrero cantou seu hino nacional a plenos pulmões. Visivelmente emocionado, soltou um grito solitário após a execução: ''Vamos, Peru, c...'' Era aquele Guerrero brigador, impulsivo, praticamente saindo do drama que sua carreira se tornou desde o início da suspensão por doping, em novembro.
Guerrero mostrou diante da França alguns traços de seu estilo, de sua personalidade. Logo no primeiro lance, recebeu de costas e ativou seu clássico ''pivô''. Matou e girou para a passagem de Carrillo na direita. Primeira chegada de um Peru que buscava jogo, iniciou com posse de bola, mas não conseguia ser letal.
Outra faceta exposta na Rússia foi o cartão amarelo recebido. Sejamos justos, não dá para saber ao certo se o camisa 9 deixou o braço de propósito para atingir Umtiti. Mas, ao ser advertido, se irritou bastante. Chegou a bater boca rapidamente com o rival francês.
A chance mais clara do Peru, quando a partida estava 0 a 0, foi por seus pés. Recebeu passe de Cueva, limpou a marcação e ficou cara a cara com o goleiro. Tinha ali a chance de abrir a marcação. Talvez, se tivesse levantado a cabeça... Uma questão de segundos. Mas Paolo Guerrero pegou de esquerda, meio sem jeito. Lloris defendeu com as pernas.
Guerrero é experiente. E sabe que o futebol não costuma perdoar desaforos. Em Copa do Mundo, então, esses são fatais. Pouco depois, o castigo veio com o talento do bom time francês – que ainda pode melhorar neste Mundial.
O próprio Paolo Guerrero foi desarmado por Pogba na intermediária da sua defesa. Dali mesmo, viu a França se arrumar rapidamente no ataque. Mbappé marcou. A imagem do camisa 9 após o gol sofrido, desolado, foi no mínimo comovente.
Cercado no segundo tempo
O atacante passou o jogo, principalmente o segundo tempo, cercado pelos dois zagueiros da França. Buscava espaço para seu giro ao receber a bola. Mas as tentativas não funcionavam. Em alguns chutes desordenados para fora, lamentava. Como lamentava. Mantinha seu olhar perdido aos céus a cada jogada sem sucesso.
Ainda houve a falta batida no fim. Após a defesa de Lloris, Guerrero permaneceu imóvel. O suspiro final foi um cabeçada sem perigo após bola levantada na área. Garra e briga diante de um rival como a França não foram suficientes.
Lágrimas no apito final
Guerrero deixou campo chorando, mostrou sua versão sensível poucas vezes vista. Com a camisa cobrindo o rosto, cabeça baixa, deixou o campo devagar. Uma imagem tocante de um jogador que sempre se emocionou ao representar sua seleção, um ídolo do país. O francês Matuidi foi o primeiro a consolá-lo. Depois, Ricardo Gareca e outros membros da comissão técnica.
O Peru ainda cumprirá tabela na próxima rodada, diante da Austrália. O jogo será dia 26, em Sochi.
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