Dois casos envolvendo crianças que atentaram contra as próprias vidas chamaram atenção nos últimos dias. Uma garota de 11 anos morreu no último domingo (17) depois de atirar contra a própria cabeça, no Mato Grosso do Sul. No Paraná, um garoto de 4 anos cortou os dois pulsos, superficialmente, com uma faca no sábado (9/3).
Apesar dos casos serem de cidades diferentes, os casos têm em comum uma personagem já conhecida entre usuários das redes sociais no Brasil: a Momo.
Com olhos grandes, pele pálida e um sorriso sinistro, a figura trata-se de uma escultura japonesa, a mulher pássaro, cuja imagem passou a ser usada para ameaçar usuários das redes sociais.
O “Desafio da Momo” foi relatado pela primeira vez em julho de 2018, quando a Unidade de Investigação de Delitos Informáticos do Estado de Tabasco, no México, abriu uma investigação. Oito meses após os primeiros relatos sobre a existência da Momo, a personagem reapareceu em vídeos infantis.
A morte da garota de 11 anos, ocorrida em Mundo Novo (MS), e a mutilação do garoto, de 4 anos, podem estar relacionadas ao viral. Em um vídeo de slime, massinha que faz sucesso entre a garotada, a Momo aparece ensinando, o passo a passo de como os pequenos podem cortar os pulsos.
Uma professora compartilhou, por meio do Facebook (14/3) imagens que mostram a filha abalada depois de ter acesso ao conteúdo. Ela fez um alerta e pediu para que pais e responsáveis fiquem atentos às crianças. Mas, até que ponto meninos e meninas são influenciados por virais como o Momo? É possível que eles possam, de fato, cometer suicídio mesmo tão novos?
O psicólogo e psicanalista mineiro Eduardo Lucas Andrade explica que as crianças podem absorver o que chama de “conhecimento entregue de modo covarde” caso não estejam amparadas e preparadas para eles. “O que influencia um jovem a atentar contra a própria vida está relacionado à forma como ele recebe aquele conteúdo e ao preparo para lidar com ele”, diz. “Se a criança está bem orientada, a tendência é de que ela não cai nesses discursos ou tenha meios para lidar com ele podendo contar com um adulto de confiança”, pondera.
Para o psicólogo, a orientação básica é não deixar as crianças completamente soltas, monitorar e acompanhar os acessos dos filhos sem fazer isso de forma invasiva. É ver o jogo que está jogando, o vídeo que anda assistindo. Saber o que ela faz. Aprender como funciona. Escutar sobre. É preciso estar presente e participar efetivamente, orientar e mapear os riscos. Diante da identificação de algum problema maior, a ajuda profissional pode ser procurada para se trabalhar tanto com as crianças, mas também com os pais.
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