Com o maior acesso a tecnologias, seja por meio de celulares, computadores e tablets, não é difícil encontrar pessoas que apresentam problemas de visão. Os artigos tão indispensáveis aos adultos estão presentes na vida das crianças e acendem um alerta aos pais.
Segundo a Pesquisa TIC Kids Online, do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), divulgada no ano passado, mais de 88% das crianças, com idade entre 9 e 10 anos, possuem telefone celular. O levantamento aponta ainda que o uso excessivo do aparelho compromete seriamente o desenvolvimento da criança, causando vícios e déficit de atenção, e ainda pode causar doenças graves.
A consultora Elane Cristina Araújo, de 42 anos, teve que ser mais rígida quanto ao uso de celulares pelo filho. Isso porque aos seis anos, ele já precisava usar óculos e estava com 3 graus de miopia em cada olho.
“Tive que colocar regras. Restringi o uso de celular e computador. Agora ele só utiliza aos finais de semana”, relata.
Segundo ela, o próprio oftalmologista do filho falou que a causa da miopia da criança era por causa do uso excessivo do celular. “O último exame que ele fez, no ano passado, constata que a miopia não abaixou”, diz.
Uso de tecnologia desde muito cedo
O filho mais velho da coordenadora pedagógica, Danielle Martins, de 39 anos, tem estrabismo e miopia, no grau 1. Hoje, com 12 anos, ele continua usando os óculos.
“A vista dele teve retrocesso em relação ao estrabismo. O médico falou que o uso do celular contribuía para isso”, conta.
O garoto utiliza óculos desde os 6 anos. Ao longo dos anos, a coordenadora mudou os tratamentos e os tipos de lente, mas ela acredita que a principal causa do agravamento da doença tenha sido mesmo o uso excessivo do celular.
De acordo com ela, tanto o filho mais velho, quanto o de 10 anos, lidam com as tecnologias desde a infância. “Desde os três anos, ambos acessam o computador, como e-mail, jogos e outras coisas. Eles são bem antenados”, conta.
Porém, em 2018, ela teve que mudar de atitude, pois o desempenho escolar dos filhos não foi tão bom quanto o esperado. “Eles sempre foram muito focados nos estudos. Sempre tiveram boas notas. No ano passado, eles tiraram notas boas, mas elas podiam ter sido melhores”, informa.
Por isso, ela restringiu o uso de todas as tecnologias para o final de semana. “Por eu ter permitido que eles tivessem Instagram e Facebook, isso demandou mais tempo ocioso deles”, fala.
O uso do celular deve ser saudável
Segundo o neuropediatra Francisco Tussolini, após o surgimento do celular, foram desenvolvidos vários estudos em relação ao objeto.
De acordo com o médico, especialistas em diversos países indicam que crianças, entre 5 e 13 anos de idade, não usem o celular mais do que 2 a 3 horas por dia. Já a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que as crianças abaixo de dois anos não deveriam usar o aparelho.
Ele ressalta que todo uso de tecnologias deve ser feito de uma maneira saudável.
“Nós temos que nos policiar. Temos muitas tecnologias só que são usadas indevidamente e acabam causando prejuízos enormes, principalmente, às crianças”, fala.
Luz azul do celular faz mal?
Para o profissional, as crianças não devem ir para os quartos com o celular. “A criança dorme menos porque os celulares emitem uma luz azul e essa luz, em contato com os mecanismos do cérebro, evita que seja produzida melatonina. Este é um hormônio que faz com que o ser humano durma”, explica.
Outra recomendação é os pais combinem com o filho o horário limite para o uso do celular. O profissional pede que os pais não deixem o aparelho com o menor.
“Se a criança entra no quarto com o celular, ela acaba tendo acesso”, fala.
Para ele, reter o celular é a medida mais eficaz e educativa. “A criança tem que saber que isso é para o bem dela”, fala.
Francisco Tussolini disse que se as crianças utilizam muito o celular durante o dia, elas podem acabar apresentando prejuízo no desenvolvimento cognitivo e a capacidade de aprendizado é menor.
“A memória imediata dela até que é razoável, mas depois ela não lembra nada”, fala.
A responsabilidade de restrição ao uso do celular é familiar
Tussolini fala que as crianças e adultos precisam saber lidar com o tempo gasto no celular e que os pais também sejam flexíveis.
“Eu acho que fazer um jogo duro é ruim para o filho. Nós temos que andar de acordo como a sociedade anda. Também temos que avaliar o que o celular vai proporcionar de bom à criança. É preciso saber como impor limites aos pequenos quando o assunto é tecnologia”, fala.
Segundo ele, se as regras forem claras, as tecnologias são usadas de uma maneira saudável.
“Ficar de 30 a 40 minutos olhando o conteúdo, junto com a criança, e ao mesmo ensiná-la sobre o que está sendo visto, é bem educativo. Entretanto, se for para deixar apenas o celular na mão da criança, sem orientação, não vale a pena”, alerta.
Os pais e os responsáveis têm que ter a capacidade de ajudar a criança. “Aquela família que acha que a escola deve ensinar tudo, está enganada. Sinto muito, a escola não vai conseguir”, fala. Para ele, a instituição educacional tem que complementar com a tecnologia, mas são os familiares que vão ajudar no desenvolvimento da criança.
Crianças viciadas
O neuropediatra fala que a reclamação e o choro de crianças nesse processo é comum, já que as crianças estão viciadas a usar o aparelho. A imposição de limites é a forma de prevenção mais eficaz e os pais e responsáveis precisam entender que diminuir o uso de celular para crianças é importante. Ele ressalta que, para isso, é necessário que a criança tenha outra atividade.
“Se você tira o celular, tem que criar outra atividade que chame a atenção das crianças”, fala. Para o neuropediatra, os pais têm que assumir a responsabilidade de cuidar das crianças e parar de terceirizá-las ao enviá-las para creches ou deixá-los com cuidadores, por exemplo.
Acima de tudo, é preciso que o pai preste atenção ao seu filho e evite também usar o celular. Curtir mais a companhia da criança, com brincadeiras e conversas, pode ser uma ótima maneira de usufruir de bons momentos junto com elas.
“Pais que desligam o celular, se ligam aos seus filhos. Pais que ligam o celular, se desligam dos seus filhos”, observa o profissional.
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