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''O sarampo realmente nos pegou de surpresa'', diz presidente da FVS-AM

Presidente da Fundação de Vigilância em Saúde, Bernardino Albuquerque, fala sobre a alta demanda e resistência de vários grupos para procurar vacinação contra a doença

30/07/2018 às 09h51
Por: Erinaldo Fonte: Portal A critica
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Euzivaldo Queiroz
Euzivaldo Queiroz

Presidente da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), o médico Bernardino Albuquerque afirmou, em entrevista concedida para A CRÍTICA, que os órgãos de combate a endemias, no Estado, foram pegos de surpresa pelo atual surto de sarampo no que diz respeito à análise laboratorial da doença. “Porque a gente não tinha equipe suficiente para uma demanda alta como estamos vivenciando agora, mas mesmo assim nós estamos conseguindo junto com o Ministério da Saúde fazer o ordenamento dessas necessidades e não temos apresentado problemas maiores”, afirmou.

Na entrevista a seguir, Bernardino Albuquerque fala, dentre outras coisas, sobre a resistência de várias grupos de procurar os postos de vacinação contra o sarampo que, só no Amazonas, já foram identificados 519 casos. Para ele, uma das grandes dificuldades no Estado são as grandes distâncias e as dificuldade de acesso a comunidades rurais. Após quase um mês de atuação contra o sarampo, o diretor da FVS–AM acredita que a vacinação está sendo realizada com êxito na capital, porém com dificuldades quando se trata do interior.

De que forma a FVS atua no Amazonas atualmente?

Na realidade nós temos aqui no Amazonas a Fundação de Vigilância em Saúde, na grande maioria dos estados ela é integrada à Secretaria de Saúde sob formas de departamento, aqui ela compreende uma instituição autônoma, mas vinculada com a secretaria. Ou seja, todas as áreas pertinentes à vigilância em saúde compreendendo toda distribuição do sistema de informação, vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, laboratórios de segurança pública, imunização e controle das doenças endêmicas é coordenada pela Fundação. Essa coordenação implica não só em fazer o monitoramento das doenças, mas também tem a responsabilidade de definir junto com os municípios as ações de controle, fazer a supervisão dessas ações, formação de recursos humanos e outros. Então tem essa característica diferenciada do restante dos estados brasileiros.

No Amazonas existe uma incidência de doenças muito específicas. De que forma é realizado esse controle? Existem demandas em especial?

Bom, nós temos um sistema de informação que é alimentado pelos municípios e analisado praticamente a nível do Estado. Então, por exemplo, se a gente colocar a questão da malária, eu tenho em todos os 62 municípios um sistema de informação online no qual um paciente com malária é notificado e então temos o conjunto de notificações de todos os municípios. A mesma coisa são as chamadas doenças de notificação compulsória que é também um sistema nacional que nós temos controle de toda ocorrência nos interiores. A malária possui um sistema específico, a questão da vacinação também é um sistema próprio que tem a coordenação aqui da fundação. Então esse trabalho não só de monitoramento, mas também de ficar olhando áreas de maior risco, trabalhar com os municípios no desenvolvimento das ações de controle comunitárias e intensificar essas ações. Tenho várias equipes nesse momento no interior do Estado que fazem todo esse processo de cooperação de supervisão municipal. É um trabalho integrado, conjunto e, às vezes, até com áreas fora da questão da saúde, nas áreas de educação e meio ambiente, temas que trabalham muito integrados.

Quais as principais dificuldades notadas nos municípios considerando também a maior presença de áreas rurais?

O Amazonas é o Estado que tem o maior percentual de preservação da floresta e tem também uma outra característica que é exatamente a sua extensão territorial, é o maior estado brasileiro e com uma população que, se nós formos reparar os estados do Sudeste e Sul do Brasil, uma população até certo ponto diminuta. Uma outra característica é a questão da densidade demográfica extremamente baixa, você tem um aglomerado urbano, mas você tem várias comunidades dentro do município, às vezes distante horas de barco e isso realmente requer uma logística própria, uma dificuldade muito grande no controle dessas doenças.

A questão acerca das comunidades indígenas também influencia nesse controle?

Sim, nós temos também aqui no Estado a maior população indígena do País e sabemos toda a dificuldade nessa questão de acesso. Geralmente essas são populações nômades e isso facilita também essa questão da entrada e saída de parasitas, então é uma característica peculiar de você trabalhar. Aqui não é, digamos, como um Estado do nordeste que eu pego um carro pela manhã e percorro três ou quatro municípios, aqui às vezes pra gente chegar em determinado município demora dias para ter acesso a esse município, uma situação realmente muito diferenciada.

Para que exista um maior controle das endemias, a fundação possui investimentos voltados para avanços tecnológicos?

Na realidade doenças digamos de países de situações pobres não têm muito interesse em desenvolvimento de tecnologias. Obviamente se o Estado do Amazonas, digamos, tivesse uma outra característica, fosse um Estado de interesse maior, o interesse da Amazônia é a preservação, mas você pega o Sul e Sudeste, a característica e o interesse também é outro, interesse não só econômico, mas político, então você tem realmente uma densidade tecnológica melhor.

Além da falta de investimento financeiro, existem outros fatores que dificultam esse avanço?

Aqui nós também temos dificuldade de conectividade muito grande no interior, mesmo esse sistema de informação, eu tenho, por exemplo, um caboclo que presta serviços em uma determinada comunidade do interior aí ele precisa se deslocar dias para chegar na sede municipal e fazer o repasse dessa informação, desses dados para o sistema. A questão de uma vacinação, por exemplo, vacinamos muito bem nas áreas urbanas, mas as áreas rurais realmente ainda carecem de uma pronta resposta no que diz respeito aos problemas de saúde.

Sobre o sarampo, as autoridades estão fazendo uma mobilização muito grande para a vacinação, mas ainda percebemos que existe uma resistência das próprias pessoas. Ao que o senhor atribui isso?

São várias causas que estão relacionadas com essa situação, tanto que nós estamos vivenciando. Apesar da vacinação ser extremamente eficaz para o controle do sarampo, o que a gente verifica é que essa cobertura vacinal não é uma cobertura eficiente, que possa nos garantir tranquilidade no que diz respeito a não introdução do vírus. A gente tem também vivenciado isso como a própria negação à vacina por determinados grupos. Isso é uma coisa muito infeliz, muito negativa, porque você acha que não precisa mais de vacina para proteger as crianças e se proteger, na realidade é isso que nós estamos vivenciando hoje no Estado com o sarampo em função da baixa cobertura vacinal. Hoje vai estar aqui, amanhã pode estar no Rio de Janeiro que tem a mesma característica, ou qualquer estado do Brasil.

Como é realizada a administração do estoque desses medicamentos? Porque no caso do sarampo foi uma demanda muito grande em um curto espaço de tempo. Como a fundação conseguiu administrar essa situação?

Dentro das doenças que vem acontecendo que nós chamamos de doenças endêmicas, a gente já tem um planejamento anual, no que diz respeito às drogas que vão utilizar e aí temos como exemplo a malária e a leishmaniose. Mas também temos essa questão de agravos inusitados, coisas eventuais que acontecem aqui no Estado e aí realmente essa nossa relação com o Ministério da Saúde passa a funcionar. Nós acionamos o ministério e relatamos a necessidade, porque nem para todas as doenças nós temos um estoque de medicamentos. Felizmente o sarampo é uma doença que não tem um tratamento específico, ou seja, vamos realmente tratar as complicações, para fazer isso temos condições na rede de saúde estadual e municipal. O sarampo realmente nos pegou de surpresa na questão do laboratório, porque a gente não tinha equipe suficiente para uma demanda alta como estamos vivenciando agora, mas mesmo assim nós estamos conseguindo junto com o Ministério da Saúde fazer o ordenamento dessas necessidades e não temos apresentado problemas maiores.

Sobre a malária, os Estados Unidos autorizaram a droga que permite tratar a doença com dose única. O senhor pode falar um pouco sobre esse medicamento? Essa medicação é direcionada para o tratamento, então o que a gente tem aqui hoje no Amazonas?

A malária é determinada por duas espécies de plasmódium, uma é a malária mais comum, a vivax, chamada também de malária benigna e a malária falsiparum que é, digamos, a forma que pode levar a quadros graves e a óbito. Essa nova droga é utilizada principalmente no tratamento da malária pelo vivax, que é a malária que ficou no fígado. Geralmente, nós utilizamos duas drogas no tratamento da malária, uma droga inicial por três dias que elimina a malária que está no sangue e, consequentemente, apresenta a parada dos sintomas, de forma que o indivíduo acha que está curado e deixa de tomar a segunda dose que tem que ser feita no mínimo em sete dias, então as pessoas tomam remédio para a malária que está no sangue e acha que está bom e que não devem mais fazer o tratamento da malária que está no fígado. Essa droga realmente vai facilitar muito o tratamento porque eu vou eliminar a malária do sangue e só faço uso de uma dose única de dois comprimidos dessa nova droga. Isso poderá facilitar muito e melhorar principalmente aquilo que a gente chama de abandono de tratamento. Então é uma droga que promete muito apesar de que também nós temos algumas dificuldades para ministrar essa droga, ou seja, alguns pacientes com deficiência de uma determinada enzima não pode fazer o uso dessa droga, essa é a grande dificuldade.

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